Recentemente arqueólogos britânicos encontraram um gato mumificado em uma casa que pode ter pertencido a uma mulher acusada de bruxaria que vivia naquela localidade no século 17 em Lancashire, norte da Inglaterra. Nessa região houve muitos registros de mulheres sob a mesma acusação, principalmente na área de Pendle Hill, onde a casa foi encontrada.
O gato mumificado fora emparedado vivo provavelmente para proteger os moradores da casa de maus espíritos, como se acreditava na época. Gatos frequentemente são vinculados ao folclore sobre bruxas. Quem quer que tenha praticado esta covardia contra o felino, buscava proteção contra espíritos malignos. Algo inconcebível nos dias de hoje e uma marca de crueldade contra os animais. Difícil é acreditar que teria sido uma bruxa já que é o animal predileto delas, mas, enfim, coisas do tempo da ignorância.
Na época, distritos inteiros delatavam ocorrências de bruxaria, contra pessoas e animais, numa histeria coletiva de acusações contra muitas pessoas.
No ano de 1612, 20 pessoas, entre elas 16 pobres mulheres camponesas, o marido de uma delas e uma criança são executadas no castelo de Lancaster- em um episódio que ficou conhecido na região como o 'julgamento das bruxas de Pendle'.
Foi também em Pendle Hill que nasceu uma nova derivação protestante: os Quaker- que também sofreram perseguições religiosas, com execuções exemplares, por não seguirem as determinações do tirano rei. Tudo porque recusavam- se a frequentar à comunhão protestante como determinava o monarca inglês Jaime.
As acusações vão desde a cura de animais por meio de feitiços a pragas rogadas, manipulação de bonecos (vodú) para que pessoas adoecessem e reuniões suspeitas numa Sexta-feira Santa.
Como testemunhas usavam até crianças. O conteúdo da acusação- proporcional ao método de investigação: ou seja, totalmente comprometido.
Nesse tempo onde religião, costumes e direito se misturavam, dá pra perceber como bizarrices como essas ocorriam. Pensando bem, será que hoje isso ainda não acontece ?
Pra saber, basta que nos perguntemos se em algum momento fomos alvo de ataque de algum mau caráter, invejoso, competidor ou assediador moral e perceberemos que em essência, é a mesma coisa que acontecia na idade média; já que em ambientes onde o abuso e o arbítrio imperam, tais comportamentos, não só recebem apoio, como são incentivados.
É o império do terror e do sadismo, pois o que dá prazer a esses agressores crônicos é importunar e causar transtorno ao objeto de sua anomalia.
Na época da caça às bruxas, por conta de tanto abuso, as pessoas se saturaram das violações de direitos e deu- se o início a uma série de revoluções que culminaram com tratados e convenções de direitos humanos onde a perversidade de um homem contra outro(s) não seria mais tolerada.
Hoje, se alguém quiser praticar bruxaria (Wicca) estará amparado pela maioria das constituições, sobretudo ocidentais; se não quiser ser da religião oficial de determinado país, será respeitada sua decisão; se não quiser ter religião, também poderá; se preferir a cada dia aderir a um credo diferente, terá liberdade, pois aqui o que se discute é a liberdade de escolha da pessoa e não a imposição ou o capricho de outra.
Quanto aos abusos e violações de direitos, nossa civilização ainda está lutando pra que a justiça prevaleça e não determinados interesses de grupos ou pessoas. Não atingimos a perfeição, mas evoluímos dia a dia.
Foi da indignação de pessoas que não se conformaram com o “status quo” de suas épocas que o poder irrestrito de determinados seres e do próprio Estado encontrou resistência, sobretudo em prol do bem maior que é a dignidade humana.
Por isso, se rebelar contra a perversidade do outro, significa não permitir que a maldade e o abuso se instale, e, pra que isso ocorra, será preciso declarar guerra aos cruéis e, portanto, sair de nossa zona de conforto e comodismo.
A resignação é a marca dos subvernientes e o seu salário é servidão.
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