O assédio moral que se prática mundo afora não tem nada de novo e somente a sua discussão é que ganha dimensões atualizadas.
De fato, este tipo de violência não tem nada de original e possui elementos discerníreis a despeito de sua subjetividade, aliás, esta é a sua principal característica: a camuflagem. Para entendermos seu funcionamento precisamos recorrer a outro conceito - a ideologia.
Conceito
Ideologia é um termo que possui diferentes significados e duas concepções: a neutra e a crítica. No senso comum o termo ideologia é sinônimo ao termo ideário, contendo o sentido neutro de conjunto de ideias, de pensamentos, de doutrinas ou de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações sociais e, principalmente, políticas. Para autores que utilizam o termo sob uma concepção crítica, ideologia pode ser considerado um instrumento de dominação que age por meio de convencimento (persuasão ou dissuasão, mas não por meio da força física) de forma prescritiva, alienando a consciência humana.
Estabelecido o conceito percebe-se um padrão emergente nas características intrínsecas ao assédio moral, ainda mais, se pensarmos nele do ponto de vista da concepção crítica.
Pense um exemplo análogo, digamos, a Itália de Mussolini e o fascismo que assolou aquela sociedade. Identificaremos elementos em comum às atuais práticas de psicoterror que transitam pelas organizações.
Naquele momento o mundo atravessava um período de instabilidade intensa decorrente de uma sequência de acontecimentos onde os italianos se defrontaram com o desemprego massivo, inflação desenfreada, recessão e pânico social. Sua classe média estava apreensiva diante da perda do poder de compra e de processos de tentativa de proletarização desencadeado pelas esquerdas do país.
É nesse cenário que surge as ideias (ou ideologias) fascistas de equilíbrio e proteção da propriedade como pano de fundo para as suas verdadeiras intenções.
Encontrando imediatamente a adesão da classe média e da burguesia (industrial e financeira) o Duce, logo encontrou apoio entre os grupos elitistas, a ponto do rei Vitor Emanuel convidar Mussolini para governar os aspectos burocráticos do Estado. Este, foi o primeiro passo para a tomada definitiva do poder e implantação do totalitarismo fascista que, entre outras coisas, negava direitos individuais, representação política, direitos de liberdade individual e preconizava o culto ao chefe.
Qualquer manifestação antagônica era imediatamente sufocada pela chamada ação disciplinadora que nada mais era que a violência organizada liderada por tropas paramilitares leais a Benedito Mussolini.
Com lemas que incentivavam a exaltação ao orgulho nacional, a defesa da ordem e da propriedade e a luta contra o "caos da revolução proletária" obteve apoio das camadas elitistas e dominantes daquela sociedade e somada à sua aproximação com a Alemanha de Hitler contribuiu para a deflagração da segunda grande guerra mundial.
Então, temos aqui, os elementos componentes de processos violentos de tomada e manutenção do poder que são encontrados circulando ainda hoje pelas organizações, como a ideologia ou manipulação do grupo, o controle pelo medo ou psicoterror, ações disciplinadoras mais conhecida como assédio moral - que conta, inclusive, com os capangas do chefe, a negação de direitos Constitucionais (como a dignidade da pessoa humana, por exemplo), elementos totalitários, e, como não poderia deixar de ser, o culto ao chefe que é a caracterização perfeita do perverso narcisista e sua megalomania.
Ora, veja você, e conclua por si só, que estamos falando das mesmas coisas que sempre aconteceram, mas que são de difícil discernimento na rotina do dia a dia, pois se camuflam na cultura organizacional, e que, por outro lado, contêm características de um mesmo padrão.
Nada mudou, pois há o grupo dominante que pretende usar os explorados para que executem tarefas que trarão os benefícios que pretendem, ou seja, é preciso uma massa que faça o trabalho para que uma meia dúzia se dê bem. Só que pra isso não pode haver questionamentos e, então, quando alguém sai dos trilhos passa a ser perseguido e precisa ser eliminado. Os lacaios se encarregam do trabalho sujo para serem recompensados ao cabo da tarefa lambendo os pés de seu ídolo. O grupo assustado manifesta comportamento de ovelha e se submete. Não há liberdade nem é permitido a igualdade de oportunidades.
Tais processos que começam dissimulados iludem nossa capacidade de percepção, pois neste estágio já cedemos à lavagem cerebral da ideologia dominante e aceitamos como certo, mesmo o mais bizarro absurdo, acreditando que se brigarmos por nossos direitos estamos agindo imoralmente.
Fica, então, o alerta para que passemos a prestar mais atenção ao ambiente que nos cerca e nas palavras que são soltas ao vento e, assim, não venhamos a nos tornarmos massa de manobra na mão de inescrupulosos.
Raniery
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