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Fala Sério!

Quem nunca teve a estranha sensação de se ver confuso com o comportamento inusitado e surpreendente de pessoas que achávamos que conhecíamos? 

Pense em um relacionamento que chega ao fim e os envolvidos mais se parecem com inimigos mortais que um casal que já viveu momentos felizes...

Venha comigo a um culto evangélico onde o cidadão emana uma luz vinda do etéreo em pleno estado alterado de consciência louvando ao Senhor e testemunhando os milagres alcançados por temê-lo e ser obediente aos seus mandamentos. Mas, me acompanhe numa aventura sinistra ao seu local de trabalho para identificar no mesmo corpo uma pessoa dissimulada armando traiçoeiramente contra o seu próximo e fique perplexo com a facilidade com que comutam seus estados e personalidades.

E o que dizer daquele parente que vive uma vida dupla que se comporta como sonso enquanto dissemina a intriga e a discórdia entre aqueles que são objetos de sua inveja e inadequação pelo complexo de inferioridade que lhe acomete? Ou, daquele garoto - conhecido da família - que sempre foi afeminado, mas vivia seu conflito, enquanto cumpria suas obrigações na paróquia local e, sentindo-se ameaçado pelos mais observadores, tentava atacar-lhes a imagem imaginando que ao fazê-lo tiraria a atenção de si em relação aos outros desconfiados?

E se, e tão somente se, nenhuma dessas pessoas, ou mesmo eu ou você fossemos quem pensávamos ser? E, se, de fato, nada disso fosse surpreendente, mas facetas de uma natureza que ainda não compreendemos e que há milênios os sábios  entenderam o que somente agora a neurociência vem descobrindo com o auxílio de tecnologia sofisticada desenvolvida por físicos em complexos centros de pesquisa?

A pergunta que se faz é: esse "EU" que penso ser é, de fato, uma entidade unificada, isto é, uma personalidade, ego, identidade distinta e única ou somos, na verdade, um processo de múltiplas sub-rotinas que o cérebro no fim projeta uma ilusão que nos faz acreditar que nos reconhecemos, ou seja, que temos autoconsciência?

A maior parte de nossos processos mentais ocorrem no subconsciente, daí a dificuldade que temos de libertar a nossa mente da influência e condicionamentos das emoções e percepções de padrões comportamentais preestabelecidos sem que saibamos de fato quem somos ou qual a verdadeira natureza de nossa essência. Nossa mente permanece limitada e confinada num ciclo completo de causa e efeito sem saber como essa lei funciona.

Por outro lado, ao darmos ao ego o que ele nos pede nos tornamos refém de nossas próprias mentes e acabamos buscando em coisas ilusórias e efêmeras a felicidade de um lado, e a fuga do sofrimento, do outro. Ocorre que tanto uma coisa quanto a outra são fruto de nossa mente. 

Aliás, o que imaginamos ser o "real" nada mais é que um modelo mental de tudo o que gravamos internamente desde o nascimento e não a materialização do mesmo. Nós identificamos o mundo ao nosso redor pelo mapa interno (modelo) que fazemos dele.

Partindo disso, é a nossa interpretação de mundo que  traduz o tipo de realidade que vivemos ou que estamos/ somos felizes ou não - e não o mundo em si. Tanto faz que circunstâncias estão excitando os seus sentidos, no fim, é a interpretação que você dará que formará o sentido que pretender, ainda que absurdo.

Destarte, é possível entender o que aquele "falso irmão" faz em dois lugares onde engana a todos o tempo todo numa busca inútil por aquilo que sua própria Bíblia ensina: o vento. Na igreja e diante dos sogros, ou na foto com alguns colegas de futebol do trabalho é o bom moço, mas nas sombras trama artimanhas contra aqueles que estiverem em seu caminho, ou seja, são sementes do mal.

Da mesma forma, entendemos as razões do homo afetivo que reluta em sair do armário e se vê ameaçado por cada sombra onde anda justamente por não ter resolvido qual tipo de reputação pretende ter na sociedade.

Se toda esta teoria ainda não pode pleitear a absoluta alcunha de verdade (não há verdades absolutas), por outro lado, nos fornece insights plausíveis que permitem que determinadas peças de quebra cabeças comportamentais se encaixem.

Isso nos fornecerá um indicador de como reagir socialmente ao mesmo tempo que ligará em nós um alerta para que façamos uma autorreflexão em relação a nós mesmos e aos nossos comportamentos e, quiçá, nos permitirá sermos menos rigorosos e mais compreensivos (assertivos) sem que com isso nos tornemos capacho de ninguém.

Então, e ao que parece, da próxima vez que observarmos a vida alheia - alguns chamam isso de fofoca - é bem possível que estejamos contemplando um processo em curso ao invés de somente alguém em plena sacanagem. 

Com isso, se abrirmos nossa própria mente, talvez, consigamos prever os passos seguintes do insidioso para nos anteciparmos. Ao mesmo tempo poderemos aprender muito de nossa essência ponderando sobre os comportamentos inadequados de algum desafeto para que nossa mente não nos iluda mais.
Raniery

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