O homem é uma entre as espécies animais que vive em estado grupal, mas somente a unica que tem consciência de seus benefícios e dificuldades.
Sabemos que é uma característica evolucionária e solidificamos tal processo intrínseco aplicando nele a noção de cultura.
Então, desde os tempos imemoriais fizemos tudo em grupo e desta forma construímos as civilizações e suas sociedades donde ainda estabelecemos a noção de Estado e consequentemente Nação. Esta por sua vez pressupõe características em comum do povo que a forma como religião, língua, costumes etc.
O trabalho também é um dos elementos dessa cultura que desenvolvemos e no decurso dos tempos criamos as organizações para que por meio delas pudéssemos aprimorar nossa capacidade de sobrevivência e, por conseguinte, domínio sobre o meio.
Destarte, em tudo o que fazemos estamos envolvidos com os grupos a que aderimos e somos influenciados por eles enquanto os influenciamos. Portanto, é natural que alguns fenômenos venham à tona como, por exemplo, a despersonalização do indivíduo para se tornar um com o grupo.
No grupo não nos tornamos uma mera soma de partes, mas nos tornamos um sistema vivo e um novo Eu surge - o grupo é um super indivíduo - que condiciona e se impõe aos seus integrantes determinando-lhes os comportamentos. Isso é tão premente que segundo as teorias psicanalíticas até mesmo um inconsciente grupal se forma.
Chamo-lhe a atenção para os mecanismos de influência dos grupos que primam muito mais para a autopreservação e unidade que necessariamente pela busca da verdade. Isso ficou evidente no caso dos brasileiros que humilharam uma garota russa que por não conhecer a língua portuguesa não entendia as ofensas que lhe eram deferidas.
A partir desse episódio me veio à mente outras ligações de falsos raciocínios que denomino mais como pressupostos que necessariamente argumentos. Uma delas é a falaciosa ideia de que devemos seguir a maioria como se uma adesão maciça fosse condição que impedisse a manipulação de massas.
Nesse sentido algumas pessoas permeiam as suas percepções por essa enganosa ideia que encontra na história numerosos episódios que que não prevalece. Basta lembrarmos do holocausto de judeus e outras minorias efetuado pela ideologia Nazifascista que induziu uma nação inteira a cometer e consentir legalmente com um genocídio étnico.
Já, nas organizações observamos tais episódios acontecerem cotidianamente corroborando a teoria de Hanna Arendt sobre a banalidade do mal onde colegas de trabalho movidos por ganância e ambição se estruturam em grupos informais e traem seus colegas sob a justificativa de competitividade e de interesse próprio. Dessarte, induzem aqueles que lhe são associados a "fritarem" aqueles que entendem estar em seus caminhos.
É o que vem ocorrendo em conhecida empresa pública aqui da cidade onde um grupo deles através da associação representativa tomou o poder e passou a deflagrar perseguições onde em alguns casos terminaram em demissões sugeridas ao presidente corrupto.
O assédio moral que fora configurado pelo Ministério Público do Trabalho nesta empresa e, agora, em tácita desobediência de termo de ajuste de conduta não é executado sozinho e depende desses "capitães do mato" para obter sucesso. Esse é o lado sombrio do grupo e que sustenta o argumento de que seguir cegamente a maioria não é necessariamente a mais "moral" das escolhas.
Outro exemplo que costumo citar é o de um bichinho chamado Lêmingue que quando em estado de acasalamento se deixa levar elos impulsos primitivos e se lançam ao mar de penhascos enormes e quando não se esfacelam nas rochas morrem afogados e pouquíssimos chegam ao outro lado da ilha e conseguem atingir seu objetivo.
Se a neurociência vem provendo farto conhecimento sobre a fantástica capacidade do cérebro e sua inteigência, não deveríamos manifestar tal distorção de pensamento, acreditando por pressupostos, de que seguir a maioria é uma condição necessária para se chegar a uma visão apurada da realidade.
Obviamente, devemos dar atenção ao que dizem as pessoas sem que com isso tenhamos que obrigatoriamente aderir subservientemente ao que pensam sem ponderarmos de forma independente a nossa visão de mundo. Ainda mais que nem sempre conseguimos saber as reais intenções de pessoas que dissimulam seus caracteres e exsudam maldade racionalizada.
Se, aceitarmos (submissamente) como natural o fato de que no grupo não somos nós mesmos e este nos induz a cometer atos que em condições "normais" não manifestaríamos comportamentos inadequados acabaremos como os personagens do lastimável episódio de humilhação da moça russa ou como os cafajestes da empresa pública que traem seus colegas por vinte moedas de pratas.
Basta pra isso imaginarmos que ninguém é obrigado a participar de grupo algum, mas que isso é alcançado por adesão deliberada, ou seja, é necessário cumplicidade para pertencer a qualquer grupo, isto é, pertencimento e característica inata ligada à adesão voluntária e comungada entre os membros dos grupos.
Portanto, não deveríamos aceitar a ditadura dos grupos, sobretudo, quando se tratar de justificativas para condutas aéticas.
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