Costumo dizer que a melhor maneira de refutar o argumento, dentro dos
limites estritos do debate, é começar usando as próprias palavras do
antagonista, mas não leve isso a ferro e fogo, pois há inúmeras formas de
fazê-lo - é que gosto mais dessa.
Eu a chamo de "Teoria do Bife". Dois bifes, um grande e outro
menor, o que você faz? Pega o grande ou pega o menor? Enquanto você perdia
tempo resolvendo o dilema, eu fui lá e peguei o maior. Você, então indignado/
indignada menciona algo sobre a minha grosseria ou falta de educação.
Logo após engolir o primeiro pedaço, eu lhe pergunto - o que faria em
meu lugar? Você responde - "eu pegaria o menor pedaço, oras! Pois é,
retruco - é exatamente o que aconteceu; não vejo o porquê da reclamação!"
Mas, e se você respondesse que pegaria o maior? "Ué, não foi exatamente o
que fiz? Ou seja, o mesmo que você faria!"
“Clichês, frases feitas, adesão a códigos de expressão e conduta convencionais
e padronizados têm função socialmente reconhecida de nos proteger da realidade,
ou seja, da exigência do pensamento feita por todos os fatos e acontecimentos em
virtude de sua mera existência. Se respondêssemos todo tempo a esta exigência,
logo estaríamos exaustos;” (Arendt, 1995, p. 6)
Algumas coisas são ditas com ares de legitimidade ou de coerência, mas
que não proporcionam relação alguma de causalidade como, por exemplo, mulher
deve ganhar menos que homem, pois engravida. Não há relação alguma entre
uma coisa e a outra; tudo é movido pelo preconceito machista do
declarante...mero machismo mesmo! Há uma intenção de banalizar a vida em
função de um pensamento econômico: isso não é novo.
Curiosamente, o pensamento acima é retórico e saiu da boca inepta do
mesmo asno que disse que usou auxílio moradia para “comer gente” (não disse que
usou o dinheiro público para manter relações sexuais com mulher...). Isso sim,
propõe uma relação negativa e o mal-uso do dinheiro público. Coincidentemente,
da mesma pessoa que pretende dirigir o país propondo o chamado
"Estado-Mínimo" ou a "Não Intervenção completa do Estado",
isto é, tem a pretensão de acabar com um monte de órgãos e entidades públicas
sob a justificativa de...gasto público! Custou ao contribuinte R$ 900.000,00...isso
mesmo!
A utilização de clichês e frases de efeito cooptam facilmente um tipo de
pessoa, não afeita ao pensar, que enxerga os problemas da vida por meio de
soluções tão simplistas quanto os jargões de políticos oportunistas que causa
nelas uma espécie de efeito do tipo botão “start” daqueles brinquedinhos de
bate e volta. Não à toa, tais pessoas passam pela vida batendo a cabeça sem
entender que se continuarem a cometer os mesmos erros terão sempre as mesmas
consequências.
“Uma sociedade torna-se cúmplice da demência totalitária do Estado
na medida em que partilha as mentiras do sistema não por ser enganada, mas por
se recusar a perscrutar a verdade dos fatos.” Souki (1998, p. 61).
Dessa vez, ao invés de atacar e/ ou detonar o argumento (do jumento), farei
diferente. Vou aderir à mesma ideia dele referente ao ganho de salário da
mulher frente ao do homem sem me preocupar com a relação lógica causal. Que se
dane!
Proponho, então, que a mulher ganhe mais que o homem, justamente por
engravidar e favorecer a vida em seu ventre que, dentre outras
coisas, permite que boçais - como o da declaração - nasçam e existam para falar
merda. Vamos lá, então! Sem lógica nem nexo causal, somente invertendo o
processo.
Começarei pelas organizações, donde as empresas fazem parte. Por que
existem? Existem em face do ser humano e de suas necessidades sendo, portanto,
uma extensão de sua socialidade, fruto de um processo evolucionário, que
desenvolveu um ser afeito à cultura.
Dos primeiros grupamentos que se associaram para sobreviver à era
glacial, até os primeiros clãs a noção de organização evoluiu junto com o ser
humano em seu processo histórico cultural chegando aos dias de hoje na formação
de Estados e conglomerados econômicos transnacionais. Nada disso se faz sem a
existência humana ou, senão, em função dela, em sociedade.
Bom...parte dos humanos é composta de mulheres que, segundo estatísticas,
compõem mais de 50% da população mundial, logo, empresas/ organizações são
feitas e existem em função delas, tanto quanto dos homens. Mas, me deterei na
parte delas, já que declinei da lógica, tal qual o fanfarrão - vou imitar o
(vô) mito.
Sabendo que é em razão delas que as empresas existem e que qualquer
empresa necessita de mão de obra para executar suas operações, e que elas
carregam dentro de si, os futuros trabalhadores que farão toda a engrenagem
andar, então, elas são pelo menos duas vezes mais produtivas que os homens e,
isso, sem considerar a dupla jornada...
Portanto elas, além de produzirem dentro das empresas, ainda emprestam
seus organismos para que o próximo profissional se desenvolva, nasça, cresça e
aumente os lucros do patrão. A meu ver e, por pura pirraça, aderirei ao
pensamento de que os homens deveriam ganhar menos que as mulheres pela mesma
função executada, já que não engravidam.
Bizarro? Bizarro é ter que ouvir isso em pleno século XXI vindo de gente
estúpida que não sabe enxergar o que acontece a um palmo de seu nariz e fica
papagaiando merda pelas redes sociais. E, no caso em questão, ainda é composta
de parasitas vagabundos que não são capazes de botar o próprio prato de comida
fazendo suas mães, irmãs e esposas de empregadas enquanto olham para o rabo da
gostosinha da esquina.
Perceba que falar merda qualquer esdrúxulo o faz, mas tornar o que fala
um argumento capaz de produzir algo de bom para a sociedade somente é capaz alguém
que não porte distorções de personalidade ou desequilíbrio mental e que agregue
a essa mesma sociedade uma proposta de evolução cultural, não por meio de
discriminações, evidentemente.
Viu só! Não ataquei o argumento do oponente como costumo fazer e ainda o
imitei. Nesse caso, basta isso e não muito esforço para desmoralizar um
"bosta" que chamam de mito...o que ele fala tem a mesma consistência
de gelo fora do congelador.
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