Anúbis |
A partir do momento em que decidimos viver em agrupamentos e deixamos de ser nômades em conseqüência do conhecimento advindo da agricultura e da domesticação de animais desenvolvemos um sentimento de religiosidade e entendemos que devia haver algo mais ou alguém que fosse o criador de tudo que existia.
Essa é a provável origem dos deuses e da religião.
Teorias de um lado, controvérsias de outro, o fato é que a fé é algo cultural e, portanto, ligado ao homem em seu contexto social.
Tanto nos primórdios como hoje em dia recorremos ao sobrenatural pra praticamente tudo em nossas vidas; pedimos a divindade que interceda por nós nos mais variados aspectos de nossa existência: trabalho, finanças, relacionamentos, proteção etc.
Os antigos possuíam um deus pra cada atividade humana. As divindades evoluiram conforme as civilizações se sofisticavam e apresentavam as mais diversas formas e características conforme cada povo.
Seja politeísta ou monoteísta a verdade é que o homem sente a necessidade de invocar a ação de poderes maiores que os seus ou onde se esgotaram as suas forças na resolução dos seus conflitos, até porque, tem coisa que onde há a interferência humana quebrando as próprias regras que cria o mesmo dificilmente ocorre em se tratando de sobrenatural, a não ser que se esteja disposto a pagar o preço disso.
Ninguém foi mais religioso e praticante de magia que os egípcios. A civilização solar continha um panteão respeitável de deuses e deusas que atuavam em todos os aspectos desse povo.
Destaca- se a poderosa deusa Ísis, seu marido Osíris, morto por Seth (o senhor do caos) e Anúbis (o senhor das câmaras funerárias, do submundo e da justiça).
Discute- se os efeitos da fé e da magia se seriam de ordem psicológica, isto é, sua atuação meramente na psiquê de quem os utiliza ou se de fato é real dentro dos limites da metafísica. Só não se discute que é um fenômeno ligado a própria existência humana e, portanto, social.
Desta forma pode- se falar das inúmeras civilizações com suas respectivas práticas e na essência todas, de certa forma, apresentaram os mesmos aspectos.
O mundo evoluiu em suas mais diversas facetas, desvinculamo- nos do teocentrismo, no que diz respeito aos poderes do Estado, obviamente na maioria das civilizações. O monoteísmo se tornou prática religiosa dominante e influenciável, mas continuamos e continuaremos a invocar o sobrenatural em nossas vidas diante das mais diversas áreas que a compõem.
Uma variação interessante a essas entidades são os personagens de HQ no formato de super heróis que mimetizam os deuses e seus poderes. Eu, particularmente, gosto muito do Motoqueiro Fantasma e sua obsessão por punir os perversos (por que será, não é mesmo?). Ele se auto intitula Espírito de vingança.
Havia uma versão similar brasileira que data de 1937, o Garra Cinzenta e os dois me lembram algumas entidades afro brasileiras que são os exús, claro que o “Caveira” pelas características, digamos, físicas. Estes são energias poderosas que se manifestam pra punir aqueles que afetam a ordem natural do universo praticando a maldade e a perversidade. Os exús surgem , então, como vingadores e agentes de evolução proporcionando meios pra que aqueles que insistem em manter uma conduta impertinente tenham a possibilidade de refletir por seus atos.
Uma das partes do filme do motoqueiro que mais gosto é o do olhar da penitência onde o psicopata têm que olhar diretamente pro místico ser e se defrontar com todo mal que fez às suas vítimas e, então...é punido.
Todo egípcio tinha ciência, desde seu nascimento, que deveria ter uma vida pautada por uma consciência do bem e do mal e sabia que se defrontaria com Anúbis e seu coração seria pesado na balança da justiça eterna. Caso os atos que fizera em vida fossem desabonadores, ele não poderia passar a eternidade ao lado de Rá e seria entregue a um demônio que o devoraria. Não havia como enganar o deus dos mortos e senhor de legiões de demônios que o serviam.
Toda esta mitologia não difere muito das demais de outras religiões incluindo aí as monoteístas. Certo é que nós temos bem definido o que devemos ou não fazer, mas nossa atual sociedade, urbana, industrial e capitalista vem apagando dos registros de sua consciência valores e princípios importantes e que permitiram nossa existência ao longo desses milhares de anos. As organizações assumiram o lugar de produtoras de cultura e comportamentos através de seus persuasores meios de estímulo ao consumo. O resultado? Estamos formando exércitos de narcisistas, individualistas e egocêntricos que quando não reproduzem as atitudes psicopáticas, através da decomposição emulativa de suas consciências que é aplacada pela racionalização, as praticam em caráter completo.
Seja qual for a religião ou seus dogmas, muito mais importante é resgatar dentro de nós os princípios e valores que se contraponham e promovam a resistência contra este sistema desintregador social.
Invoquemos nossos deuses, entidades e poderes ou mesmo nossa própria consciência no combate aos perversos pra que não continuem a sentirem- se livres pra contaminar o mundo com seus podres conceitos e sistemas.
Com licença, preciso fornecer o endereço de alguns psicopatas aos meus amigos ocultos...
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