Nenhuma pessoa é igual a
outra, apesar de compartilhar inúmeras semelhanças. É por isso que se diz que
somos seres subjetivos, isto é, singulares e com características ímpares.
Basta
ver o que acontece com relação aos gostos (que não se discute, não é?). Uns
gostam de Rock, outros de Pop ou Dance e há os que preferem os clássicos. E não
é só em relação a música que há uma diversidade de preferências e sim em cada
área de nossa existência.
Vivemos numa sociedade
cada vez mais propensa a incentivar tais subjetividades onde o consumo se
transforma em estilo de vida, que se generaliza e se internaliza no
inconsciente coletivo. É um paradoxo, já que o pressuposto da vida social é a
divisão e o compartilhar. Seja espaço, objetos, tempo, conhecimento, não dá
para viver isolado e não ser interdependente.
Atualmente, com a
disseminação da informação, cada vez mais eficiente, nos é permitido conhecermos
nossos direitos, pelo menos de forma básica, que desejamos não serem lesados de
forma alguma. Junte a isso, uma forte incorporação de mecanismos egocêntricos e
narcisistas e teremos a equação perfeita para o conflito.
De um lado, os que
entendem que para conseguirem o que querem devem se utilizar das pessoas como
meios para alcançar seus fins; do outro, aqueles que se sentem agredidos em sua
imagem, nome ou honra e que, naturalmente, não aceitarão tal comportamento.
Nesse caos cada um
defendendo seus interesses se projetará um leque de reações, que se graduarão em relação às frustrações decorrentes de tais
choques. Sendo assim, pode-se dizer que cada pessoa sofrerá, muito, pouco, ou
quase nada, de determinada maneira, diante das ações decorrentes de tais
conflitos. E sofrimento é algo pessoal que só entende quem o passa. Quem está de
fora não consegue dimensioná-lo.
No assédio moral, não é
diferente. Lá, estará a subjetividade de cada um entrando em ação. O que é
frescura para o “durão” é inadmissível para o escrupuloso. O maior problema se
dá com uma distorção que fazemos do generalismo quando concluímos que o que
entendemos como normal o é para o outro também. É como se quiséssemos que todos
se adaptassem a nossa interpretação do mundo.
Tem uma frase que define
muito bem essas relações: “sempre foi assim”. Quando eu escuto alguém usá-la
fico de pelos arrepiados, pois, onde ela foi dita percebi que as pessoas
decidiram abandonar o bom senso e a razão e desistiram de pensar por si
próprias. Nestes lugares, curiosamente, observei um espertalhão que preencheu a
lacuna tomando pra si a função de pensar por elas.
E o que é o assédio moral,
senão a manipulação de pessoas para a satisfação dos objetivos de um
inescrupuloso local. Nos locais de trabalho que observei, o jogo do poder foi travado para se conseguir vantagens ou para
mantê-las. Quando alguém não está de olho no teu lugar, não raro, se sente
ameaçado por tua competência, daí se utilizar dos expedientes antiéticos.
Essa visão egoica não
permite enxergar no semelhante alguém que está no mesmo lugar buscando
conquistar objetivos como todos o fazem. Afinal, o sol nasce para todos- não na
mente dos egocêntricos. O estímulo a competição se transforma numa guerra que
inicialmente é velada, mas que em dado momento se torna declarada. Há uma
espécie de obsessão e sentimento de posse e o companheiro passa a ser um
inimigo, mesmo sem nunca ter feito nada que o desabonasse.
Se levarmos em
consideração que em ambientes assim, valore éticos ou morais são palavras que
estão fora de seus dicionários, não é de se estranhar o vale tudo que se
dissemina. No domingo a pessoa reza ou vai ao culto e, mal o ministro acabou
seu sermão, ela está pensando em como derrubar seu desafeto, isto em meio aos
gritos de aleluia ou durante o hino em louvor ao santo local. Isso quando
possui alguma religião; aliás, talvez seja mais fácil encontrar ética entre
ateus.
Tem uma cidadã onde trabalho
que, se você chega no DP e não a conhece muito bem, juraria que anjos voam ao
seu redor, iluminada por uma luz divina que paira sobre sua cabeça. Outro dia
passava uma procissão católica em frente a empresa e tive a oportunidade de
vê-la toda emocionada dirigir preces e louvores a santa. Por um momento tive a
impressão de vê-la levitar, tal a aura de santidade que emanava desta criatura.
E a voz dela? É suave como se fosse vinda do paraíso, mas, a aparência esconde
um serzinho maldoso e vil que é difícil de se acreditar.
Veja que, em ambientes
assim, onde se motivam o estorvo de pessoas, não é possível existir condições
mínimas para exercer o direito natural ao trabalho. Pese sobre o lugar o
desabono de, por ser público, não poder desencadear processos persecuritórios
ferindo, desta forma, os princípios da administração pública e perceba o
transtorno que pessoas perversas, principalmente sem situação de poder,
desencadeiam sobre aquelas que decidem eliminar dali.
Portanto, poderíamos dar
por concluído aqui o pensamento de que, uma coisa é o que pretendemos ter e
outra é fazê-lo a qualquer custo e meios. O meu subjetivismo não pode se
sobrepor as convenções sociais, sendo que o mesmo raciocínio se estende aos
demais componentes de toda a sociedade em que nos encontramos.
De qualquer forma se tira outra
lição em relação à forma como as pessoas sofrem ou reagem diante de agressões
psicológicas como as do assédio moral: cada um tem o seu limiar ou grau de
resistência que variará conforme os fatores que interferiram no desenvolvimento
de cada um de nós.
Seja qual for a dimensão
do sofrimento, porém, acredito que é necessário um trabalho interior para que
esses intervalos, pra mais ou pra menos, sejam sanados para que não martirizem
a vítima dessa violência a pontos dramáticos ou prolongados demasiadamente. A
dor pode durar um período de tempo, mas não deve nos acompanhar pelo resto da
vida, senão vira um trauma e não permitirá que nunca mais nos levantemos.
De qualquer modo não
acredito que valha a pena se deixar deprimir por criaturas vazias e involuídas
como os agressores morais. Será preciso trabalhar o controle sobre os
mecanismos de defesa para superar este tipo de violência e sair dela mais
experiente e fortalecido. É difícil, mas não é impossível.
raniery.monteiro@gmail.com
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