Não é de hoje que já deu pra perceber que o mundo perdeu seus referenciais e princípios, salvo exceções.
Basta dar uma passeada no shopping para constatar que gestos simples como gentileza, educação e cordialidade são coisas do passado.
Chegamos ao ponto de ter necessidade de fazer campanhas para que as pessoas pratiquem o mínimo em termos de convivência social pacífica. Nem tocarei aqui na questão da violência urbana e a banalização da vida humana.
Nos tornamos seres egoístas, auto-centrados, e, qualquer coisa que não diga respeito aos nossos interesses, descartamos; depois nos perguntamos porque estamos imersos no caos.
Desprezar o próximo não é mais problema para uma sociedade materialista, mas quando isso ocorre conosco, então, aí, ficamos indignados e consternados; afinal: exclamamos- “quanta insensibilidade!”
Nesse sentido,veja a ideia extraordinária que nós brasileiros tivemos: o bom e velho jeitinho brasileiro! Que beleza! É uma espécie de tecnologia capaz de fazer com quem dela se utilize consiga levar vantagem sobre qualquer pessoa. Desta forma, aquilo que daria trabalho e levaria mais tempo em se conseguir pelos meios convencionais, se consegue, mas com o mínimo, ou nenhum esforço. Fantástico! Mas, há um problema: como convencer o outro lado em aceitar ser feito de trouxa e participar do processo sem se se revoltar. Bom mesmo seria se o otário ficasse contente em ser passado pra trás e ainda nos agradecesse. É, não dá pra ter tudo na vida, né?
Pessoas assim, certamente irão além e causarão as mais absurdas e danosas conseqüências. Parece exagero? Então, lhe convido a conhecer nossos políticos, policiais corruptos, gestores públicos ímprobos, empresários fraudulentos e empresas gananciosas que lesam sua clientela sem o menor escrúpulo. Pense: que tipo de gente seria capaz de desviar dinheiro da merenda escolar de crianças sem sentir o menor remorso, por exemplo?
Quando a sociedade perde sua capacidade de discernir o que é certo do que é errado, dado o esvaziamento moral em que se encontra, pode recorrer à sabedoria da natureza, que em seus bilhões de anos se tornou uma mestra poderosa em nos dar lições de vida espetaculares.
No reino animal, por exemplo, há uma disputa que chama atenção pela disparidade de forças. De um lado o louva-a deus, super especializado, músculos de aço, rápido como um relâmpago, gélido como um iceberg, ou seja, o predador perfeito e uma máquina mortífera que devora suas presas como se tivesse meditando em um templo budista no Himalaia. Do outro, o frágil e vulnerável Vagalume, sem adjetivos ou predicados que o torne adversário a altura. Definitivamente, ninguém diria que é uma criatura poderosa.
No banco de apostas, uma barbada. Acontece que subestimar um adversário, seja qual for, é um erro que costuma custar caro e, na natureza, isso significa a diferença a diferença entre a vida e a morte, ou perder uma refeição que em alguns casos é a mesma coisa.
Este conflito apresenta o mais improvável final. O Louva-a-deus age furtivamente e de emboscada. Em silêncio, movimentos calculados milimetricamente se aproxima de sua pretensa refeição, para ataca-La de surpresa e sem a menor chance de livramento. Se há um lutador que possui essas características, esse é o Louva-a-deus. Seu cartel é invejável, nocaute- é a sua especialidade.
Mas, o improvável acontece. O Vagalume que não possui super músculos não é nenhum especialista em artes marciais e não briga com ninguém protagoniza uma das mais espetaculares derrotas ao predador.
O sorrateiro assassino se aproxima do pacífico Vagalume, pronto a dar o bote; este, por sua vez, não esboça a menor reação, tudo indicando que será uma refeição fácil, mas na hora “H”...faz o que só ele seria capaz de fazer: cega o Louva-a-deus com sua luminescência exótica, e, tranquilamente voa para conquistar uma fêmea e...se acasalar. Literalmente seguindo a filosofia hippie de não fazer guerra, mas amor.
A luz venceu as trevas. É uma loucura, eu sei, mas metaforicamente falando é isso. A luz é energia. As trevas cedem à ela. A ordem prevalece sobre o caos. O equilíbrio é a tendência. A anomalia é a exceção; funciona assim.
Um antigo guerreiro ensinou, milhares de anos atrás: “ se em mil batalhas lutares e ganhares, não te tornarias excelente, mas se venceres sem lutar, então, terá atingido o ápice da glória”.
Quantas vezes você viu lugares onde as pessoas vivem e existem para a confusão e se inflam orgulhosamente propagando seus poderes, mas não conseguem nada a não ser pela violência.
Diz-se, que os EUA não perderam a guerra para os vietcongues nas florestas tropicais da Ásia, mas dentro de seu próprio quintal, numa estratégia arquitetada pelos líderes comunistas vietnamitas, colocando o povo americano contra seu próprio governo precipitando, assim, o fim do genocídio.
Quem lhe parece mais forte? O que persuade e convence, ou o que pune? Punir, qualquer boçal consegue, mas convencer não é pra qualquer um, pois demanda habilidade e capacidade de aceitar objeções. Só convence quem sabe argumentar e só o faz quem se permeia pela verdade. Quem violenta seu próprio espírito não terá poder de convencimento, pois está mergulhado na escuridão de sua mediocridade, logo, só saberá usar a violência e a intimidação como recurso- o que acaba demonstrando, na realidade, desespero. Afinal, é na escuridão que se dissimula, se embosca, ou, se monta armadilhas, mas, ao contrário, é na luz que se tem coragem de olhar nos olhos.
O tenebroso pode ostentar um poder temporal, mas de nada adianta tamanha força se for cego pela luz, pois seus golpes não terão efeito algum em um alvo que não se pode atingir.
Por isso, enquanto os olhos trevosos tentam se adaptar dolorosamente ao poder da luz, aquele que dela se utilizar já estará distante e não será tocado ou se tornará presa. O predador, humilhado terá que se aguentar o som de seu estômago roncando de fome, pelo menos até encontrar algum desavisado qualquer que seja mais fácil de se abater.
Os homens criaram um sistema artificial de controle social segundo suas próprias conveniências, mas a natureza nos dotou de um poder de discernimento capaz de nos permitir entender nosso meio e optarmos por aquilo que for melhor pra nós. Bilhões de neurônios não foram colocados em nosso cérebro a toa e não evoluímos para sermos escravos de nossos instintos, mas fazê-los trabalhar para nós.
Esta capacidade cerebral, no entanto, não foi suficiente para impedir que tenhamos comportamento de gado, pois nos deixamos amedrontar por criaturas bizarras que desafiam a nossa história evolutiva.
Na natureza, o trabalho em equipe é uma vantagem, mas os humanos somente a utilizam para hostilizar vulneráveis em completa submissão a um líder abusivo. Nos tornamos uma sociedade egoísta e egocêntrica em um processo de lavagem cerebral ligada ao sistema capitalista que forma humanos com características de ovelhas.
Não dá para aceitar determinadas coisas, como por exemplo, meia dúzia de boçais perversos determinando a vida de uma maioria, violando direitos e, ainda assim, obtendo êxito porque conseguem iludir suas mentes pelo medo. E o medo cega e nos deixa em plena escuridão, mas a verdade é luz poderosa que afasta toda sombra sinistra.
Todas as asserções feitas aqui são óbvias, a não ser para aqueles que não as tolera por se acharem importantes e melhores que os outros evocando para si uma suposta superioridade que só se concretiza em suas mentes distorcidas.
Curiosamente, estes mesmos predadores sociais que mostram suas carrancas e rugidos, quando diante de quem faça frente aos seus desmandos, com poder de puni-los miam como filhotes de gatos, assustados e temerosos ainda que, na realidade, são cobrinhas peçonhentas. Exposta sua covardia perdem as máscaras dos personagens que criaram com tanto empenho e que iludia os mais desavisados.
Subordinação é contrato de cooperação, diferentemente de subserviência, servilismo ou submissão que é fraqueza de espírito. O primeiro tem a ver com uma legitimidade enquanto os outros com abuso e resignação.
Portanto, deve-se acender a luz da dignidade que está em cada um de nós e reagir diante do abuso e do arbítrio, não se atemorizando diante de ameaças e, de forma inteligente, confrontando a tirania. Não se deixe hipnotizar pela manipulação do mito reverencial que projeta nas mentes vulneráveis poderes extraordinários e uma capa de inatingibilidade. Ninguém é tão intocável que possa se proteger na impunidade eternamente. Obviamente, se você aceitou a programação de que sequer deveria lutar ou se defender, também não deveria reclamar de ser subjugado e da perpetuação do perverso.
Pra encerrar, medite no que disse Willian Shakespeare: “O débil, acovardado, indeciso e servil não conhece, nem pode conhecer o generoso impulso que guia aquele que confia em si mesmo, e cujo prazer não é de ter conseguido a vitória, se não de sentir capaz de conquistá-la.”
raniery.monteiro@gmail.com
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