Todos os seres vivos são dotados de inteligência que se manifesta em seu arsenal de comportamentos e, traduzido de forma pragmática, significa capacidade de sobrevivência.
A adaptação ao meio produziu inúmeras reações que nos tornaram bem sucedidos como espécie neste planeta. Estes tipos de programas biológicos foram organizados em comportamentos ou na capacidade em desenvolvê-los.
Com o maior cérebro proporcionalmente em relação aos outros animais e um complexo intricado de neurônios, fomos dotados de uma inteligência que nos tornou seres capazes de modificar o próprio meio em que vivemos.
Mas, nosso problema não é a falta de inteligência, mas o mau uso dela. Acredito que até a utilizamos de forma positiva, na maioria das vezes, mas a história demonstra que sua utilização para fins inescrupulosos também é um fato.
Acompanhe-me neste raciocínio e veja se não tenho razão em minhas asserções, sobretudo, no que diz respeito ao tema central do blog que é o assédio moral.
Começando pelo agressor que se utiliza de sua inteligência para manipular pessoas com a pretensão de controlá-las pelo medo e simultaneamente estabilizar-se psicologicamente. É uma inteligência maligna por assim dizer.
Já, a vítima, poderá ter a sua razão bloqueada se for tomada pela ansiedade e pela desestabilização emocional decorrentes de tais perseguições. A confusão não permite que se tome as medidas mais adequadas e pode deixar a pessoa vulnerável e torná-la uma presa fácil para o assediador. É o medo neutralizando a inteligência.
O grupo, testemunha tácita da violêncina, tenderá a receber a mensagem de que a resposta adequada será o comportamento submisso e/ou omisso. Confrontar o assediador poderá atrair a ira do agressor. Todos serão induzidos a não se envolver na situação acreditando que ao fazê-lo estarão isentos de sofrer o mesmo dano.
Mas destes todos, gostaria de chamar a atenção para o puxa saco que, até então, era tido como uma pessoa limitada e com tendências masoquistas. Eu penso o oposto. Acredito que, de fato, são bem inteligentes, por sinal.
Se prestarmos atenção em sua estratégia entenderemos bem que se trata de alguém com um senso de objetivo bem definido e que sabe onde quer chegar, e, de bobo não tem nada.
Eu citei a palavra estratégia propositadamente, pois só a utiliza aquele que possui a capacidade de planejar seus passos. E, é isso que o adulador faz. Primeiro, procura detectar quem é o detentor do poder nos ambientes onde circula. Depois, seu próximo passo será oportunamente se aproximar do tirano local e oferecer sua subserviência, ou melhor, a simulação perfeita dela.
O agressor, que sente uma necessidade mórbida em humilhar, logo se empolga em ter um bichinho que deliberadamente aceita ficar debaixo de seus pés. Ora, assediar pessoas que resistem é desafiante, mas desgasta, portanto, ter alguém que revigore sua patologia perversa e o estabilize passa a ser um bom negócio.
Veja que não é porque o puxa saco é inteligente que o que faz o torna digno. É o caso em que uma qualidade se sobrepõe a outra em prol de interesses de cunho egóico. Inteligência alguma substitui a dignidade como forma de se conquistar a felicidade. Chega a ser incoerente, a propósito. Como posso ser feliz sendo indigno? Não que isso incomode o adulador, até porque ele não possui amor próprio mesmo, logo não se constrange ao ser aviltado.
Acontece que uma sociedade materialista colocará como escopo de sua busca pela felicidade justamente coisas que, uma vez possuídas, perdem seu valor, por outras, que ainda não se adquiriu, até, então. É uma fome que nunca se sacia, uma sede que nunca acaba...o inferno, na Terra.
Então, veja: a natureza levou centena de milhões de anos construindo seres que pelos processos de adaptação foram sendo refinados e que, no nosso caso, culminou em uma estrutura orgânica complexa, dotada de consciência de si mesma, mas que prefere subutilizá-la em função de algo efêmero que desafia as leis deste mesmo processo. E aqui não estamos falando de sobrevivência, mas de ganância.
Caso tenhamos chegado às mesmas conclusões, admitiremos que determinados comportamentos aprendidos em nossa atual civilização, como o assédio moral, por exemplo, acabaram se tornando contrários a nossa própria natureza pela decorrente inversão de valores que curiosamente surgiram para nos tornar bem sucedidos enquanto espécie.
Então, no fim das contas, não é só a inteligência ou a falta dela que conta nos processos da vida, mas aquilo que nossos ancestrais nos ensinaram como bom senso, juízo, ponderação, prudência, que nos fortalecem socialmente e, por consequência, individualmente. E isso, em última análise nos torna bem sucedidos em viver, ou, sobreviver.
raniery.monteiro@gmail.com
http://mentesalertas.wordpress.com/
Comentários
Postar um comentário