No Brasil, nestes últimos meses temos assistido uma onda de manifestações contra uma série de desmandos de um Estado que confronta sua própria democracia, e, isso, apesar dos grandes avanços que tivemos.
É que ninguém aguenta mais conviver com um sistema de saúde precária que privilegia planos e instituições particulares em detrimento dos mais pobres, fruto de uma política social de abandono.
Da mesma forma, nossa educação, sucateada, massacra seus professores e pune seus novos cidadãos com um sistema educacional que não funciona, mas que faz prosperar as escolas particulares que já se tornaram a nova indústria a ser explorada por aqui- tanto que há grupos estrangeiros investindo seu capital nesse ambicioso negócio.
Corrupção, lavagem de dinheiro, descaso com a segurança pública entre outras coisas saturaram o povo brasileiro que já não aguenta mais tanta ilegalidade que surge de seus representantes que deveriam zelar pelos interesses de seus representados, mas que se elegem e passam a agir em prol de interesses próprios ou de grupos que os patrocinaram.
E como o cidadão fica nesta história? Bem, veja você que tem filhos e que diante deste quadro caótico trabalha e se sacrifica para lhes dar o melhor e sonha com que tenham melhores chances na vida, sobretudo em um mercado de trabalho que se torna cada vez mais competitivo. O que faz? Matricula-o em uma escola particular, de preferencia que ofereça as condições para que a criança possa obter sucesso em todo o seu desenvolvimento e no momento chave poder alçar os melhores vôos.
Mas, é aí que as coisas começam a desandar. Temos que lembrar que estamos no país das falsas realidades. Você vai até a escola e quer que haja o mínimo de estrutura e segurança para aquele que é o seu maior tesouro. As escolas por sua vez preenchem a lacuna deixada propositadamente pelo Estado e elencam o bolso dos pais como seu maior tesouro.
É bem verdade que eles não podem dizer isso e em seu marketing camuflam suas intenções com palavras como educação e valores. Criam páginas nas redes sociais e postam fotos de nossos filhos brincando, sorridentes e tudo parece um conto de fadas, até que.....o outro lado da vida aparece para desafiar o discurso dos valores.
Determinada conceituada escola aqui de Santos, litoral de São Paulo foi alvo desse desafio neste mês e fracassou. Na verdade, foi o que seria mesmo. Quando teve a oportunidade de demonstrar que prática o que diz, se contentou em ser mais uma entre tantas.
Houve duas agressões a uma criança em um intervalo de dezessete dias que demonstrou a incapacidade da instituição em vários níveis, desde a negligência no cuidado com aqueles que estão sobre sua responsabilidade até o cinismo em estarem preocupados mais com a reputação e, por consequência, o números de matrículas da escola do que com a lesão e possíveis sequelas na criança.
Valores, não são qualidades que se falam, mas que se praticam e é na hora de sua necessidade que elas não podem ficar circunscritas ao discurso e slogan de propaganda.
O episódio deixou claro o despreparo dos chamados educadores em saber lidar com suas responsabilidades já que em determinados momentos numa reunião entre diretoria e os pais aquilo que é um pressuposto (e condenado) para o Direito, sobretudo em seu Código Civil, Estatuto da Criança e do Adolescente e Código do Consumidor foi encarado como normal e passível de acontecer mesmo em detrimento a integridade física e psicológica de seus alunos.
Em determinado momento a diretora externou sua experiência de quarenta anos como educadora, o que demonstra claramente uma fixação pelo falso raciocínio e apego extremo ao paradigma do tempo. Ora, as sociedades mudam com o tempo e o que era valor ontem, passa a não ser mais hoje; o que funcionava bem no passado, não mais encontra espaço no presente, então, dizer que se tem tanto tempo de profissão só serve neste caso para questões providenciarias e de aposentadoria.
Muito bem, quando não temos nossos direitos atendidos o que fazemos, então? Recorremos ao Estado Juiz para dizer o Direito: é a judicialização das relações escolares. De um lado, educadores caducos que se fixam em sua prepotência, do outro, o cidadão que apela para os direitos sociais e individuais tutelados pela Constituição. A isso, dá-se o nome de responsabilidade civil.
É perceptível a falta de preparo geral e específico com o atual momento democrático onde os cidadãos possuem um conhecimento mínimo de seus direitos entre os educadores que encapsulados em seu inconsciente os prendem ao passado onde, por exemplo, o professor corrigia comportamentos com castigos físicos- bater na palma da mão com régua, palmatória, ajoelhar no milho, escrever mil vezes que está errado.
Enfim, é lamentável e frustrante que a educação esteja sendo violentada deste jeito. O Estado a abandona e o particular a explora como uma garota de programa cujo único objetivo é o lucro do cafetão. Precisamos urgente nos desvencilhar de tais modelos arcaicos e carcomidos pela arrogância e ganância rumo a um novo tempo. Novo, não num slogan de propaganda, mas de fato e na prática.
Raniery
raniery.monteiro@gmail.com
http://mentesalertas.wordpress.com/
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