Não vivemos sós. Procuramos nos relacionar das mais variadas formas e por inúmeros motivos. Viver é compartilhar e dividir espaços com os outros. Concluí- mos então que é um imperativo formar grupos sociais em nossa espécie. Essa é a regra, esse é o padrão.
Cada um de nós participa de algum grupo que lhe seja conveniente, onde se inter-relacionará: igreja, clube, escola, familiares, amigos, tribos, etc. Mas, de forma genérica fazemos parte do grande grupo da humanidade que, a milhares de anos, age desta forma preservando a espécie.
Essa característica humana nos levou ao topo da cadeia alimentar. E se não fosse assim? Nossa inteligência e capacidade de abstração nos proporcionaram medir causas e conseqüências; deduzimos que a vida em sociedades organizadas nos dava vantagens sobre as demais espécies muito mais fortes que a nossa. Respondendo: Não fosse isso, ainda viveríamos como nômades de um lado pro outro à base de coleta e estaríamos ainda na idade da pedra ou mesmo dominados por outra espécie mais desenvolvida.
Pode-se concluir daí que o homem médio atua dentro desta condição, sem maiores problemas ou questionamentos, vivendo em estado de equilíbrio pacificamente. A grande maioria de nós deseja que as coisas continuem desta forma e, inclusive, lutamos por isso.
Acontece que dentro desta grande comunidade há os que não estão satisfeitos com a harmonia, o controle e a organização social. Vivem e existem pra promover a desordem, o desequilíbrio, a confusão e o caos. Obviamente que agem assim motivados por interesses próprios, e, dentro de uma personalidade anômala, satisfazem seus egos sem qualquer problema ou crise de consciência.
Estão em todas as áreas da atividade humana, disfarçados como nós. De difícil detecção, trabalham conosco, estudam na mesma escola, vão às mesmas boates, enfim, nada os relacionam à ameaças, por um detalhe: sua capacidade metamórfica de se parecer conosco, imitando nossas reações emocionais, nos atraindo com uma amizade fora do comum, nos “compreendendo como ninguém”, ou seja, na superfície, não tem como saber quem são.
Numa observação atenta, porém, você notará que eles obedecerão a determinados instintos migratórios irresistíveis (pra eles), exatamente como os animais selvagens. Perceberá que são atraídos por determinados valores como poder, status, dinheiro, entre outros, dentro desta linha. Mas, é nas organizações que se proliferam e se criam- é seu habitat preferido. Podem ser confundidos até com exímios profissionais ou workaholics inveterados, pelo menos na aparência. É o local ideal pra manifestarem seus talentos predatórios e disseminar o tormento.
Adoram cargos de destaque como chefias, gerências e outros do gênero. Eles não escondem isso de ninguém. Claro que seus discursos dão uma tonalidade de busca pelos objetivos, metas conquistadas, sonhos acalentados, por aí vai. São muito bons em retórica. Aliás, persuasão é sua arma principal, já que é através da comunicação verbal que manipulam, induzem, dominam e controlam as pessoas e o ambiente.
Recentemente foi realizado um “experimento social” na Califórnia onde uma família “típica” de classe média alta passa a morar em Laguna Beach. Seu objetivo: influenciar o desejo de consumo de seus vizinhos, persuadindo- os indiretamente a comprar determinados produtos, pela propaganda boca a boca. O teste expôs nossa vulnerabilidade às influências verbais e às ferramentas de marketing utilizadas na manipulação e persuasão de nossas mentes. Nem precisava; esse fenômeno ocorre todos os dias conosco nos mais diversos ambientes, sobretudo o de trabalho.
Possuem outro talento: o da invisibilidade. Dissimulando seus atos e intenções, não permitem que os outros percebam quem são na realidade. Quando se dá conta, é tarde demais. Quem já se viu em meio a intrigas e fofoca sabe muito bem do que estou falando. Mas, a última pessoa que você pensará que está por trás deste jogo, é o nosso “amigo” de tantas confissões. Aliás, se seus segredos foram parar no ouvido dele, é bem possível que, a esta altura do campeonato, tenha se arrependido amargamente.
Seu universo consiste de prejudicar colegas, causar prejuízos por onde passam (passivos trabalhistas, fraudes, corrupção ou ilícitos) e conquistar o poder. A única coisa é que sua ficha e aparência angelical não permitem que se acredite que foram eles quem desencadearam toda esta anarquia.
Mas, mesmo pra promover a desordem e desequilíbrio é preciso, ironicamente, de um plano de trabalho meticulosamente elaborado. Até porque, eles não podem ser pegos sem conseguir o que querem. Mentira e embuste são suas ferramentas especiais.
Quais são, então, as suas estratégias?
Todo predador sabe que precisa de um território onde atuar e caçar, e, eles não são diferentes. Quando chegam às organizações, a primeira coisa que fazem é identificar o “BOSS”. A partir daí, passam a travar relações de aproximação que podem desencadear até uma generosa dose de adulação. Não tem problema. Eles não possuem amor próprio mesmo: é permitido.
Logo após, começa um trabalho de manipulação de pessoas e fatos. Maquiavelicamente disseminam boatos com a intenção de angariar a confiança e simpatia dos demais, para os quais, ele alega uma preocupação quase divina, de um em contraposição ao outro, e destes, em relação ao chefe. Principalmente se isto desencadear a simpatia do inseguro superior. É interessante notar que eles têm uma predileção incrível em informar o chefe das coisas que ocorrem no local de trabalho, mas recusam- se a ser vistos como caguetas. Não, isto em hipótese alguma!
Recentemente aconteceu um fato desta natureza, em minha empresa, onde o dissimulado, quando foi descoberto, rapidamente foi a uma rede social apresentar suas desculpas esfarrapadas. O que mais me chamou a atenção foi a forma como ele transferiu suas responsabilidades para os outros que, em sua opinião, tinham a obrigatoriedade de fazer o que ele queria, demonstrando total sintonia com as atitudes arrogantes de seus mestres. Como os colegas se recusaram a atender seu capricho, delatou- os para o seu querido chefe que, ironicamente, o deixou em desgraça perante os demais, pelas medidas que adotou. Sem me decepcionar, diante da polêmica que se instaurou, a criatura, então, manifestou sua faceta violenta, com discursos agressivos, dignos da animação da Disney- kung Fú Panda. Aliás, tão patético quanto o desastrado personagem. Coisas de uma mente infantil, mesmo.
Por último, como estratégia, vem a ascensão. É o apito final, a hora de levantar a taça, o arremate. Após disseminar a intriga e propagar um estado caótico, tomam o lugar de seu superior que, ou é demitido, ou é rebaixado de cargo e função. Por isso que, em determinados ambientes laborais, se vêm chefes extremamente paranóicos, desconfiados da própria sombra, achando que em cada cafezinho tomado há um plano pra derrubá- lo. Especialmente se ele criou esses filhotes de serpente, ao longo do tempo. Mas, cá pra nós, não dá pra acreditar que um pilantra é uma pessoa confiável ou que, em determinado momento, não te trairá, né? Tem que ser muito ingênuo.
Os promotores do caos não possuem consciência ou preocupação com punições, por isso mesmo, é que são pessoas ardilosas e perigosas. Para eles, infringir regras e normas é externar seus desejos agressivos e predatórios sem qualquer escrúpulo ou culpa. São atitudes “naturais”, e, por conta disto, isentas de qualquer autocrítica.
Ter em seu meio, criaturas como essas, já é ruim; imagine então, como deve ser um lugar onde, todo o ambiente ou corporação, manifestam tais comportamentos. Pense numa estrutura organizacional onde “ser pilantra” é pré requisito ou prerrogativa, para “se dar bem”. Ambientes corruptos e degradados proporcionam o habitat perfeito para que, parasitas sociais, egocêntricos e inescrupulosos, alcancem cargos de chefia e poder.
Neste cenário de intrigas, ganância e falcatruas os interesses pessoais se sobrepõem aos coletivos. Disputas pelo poder, cargos e privilégios são marcas características que devem ser mascaradas religiosamente. São como bichos geográficos- não os vemos, mas deixam marcas por onde passam ao mesmo tempo em que causam transtornos ao seu hospedeiro.
Este tipo de gente e jeito de ser não interessa a uma sociedade sadia. Por isso mesmo, que se deve lutar e enfrentar todo tipo de abuso e arbítrio. Sem deixar a cautela e o bom senso de lado, deve- se buscar meios disponíveis e legítimos de se contrapor a toda sorte de violência. A ordem é a línguagem do universo. Tudo obedece a seu curso, exatamente como deve ser, e, até o que parece caótico está estruturado debaixo de leis irredutíveis.
Se acovardar diante da ameaça é trazê- La pra si. O que dispara no agressor o desejo de caça, não é o confronto, mas a vulnerabilidade. A resistência é salutar e produzirá um estado de equilíbrio necessário a ponto das empresas acordarem para a necessidade de uma abordagem preventiva, tanto da violência moral, quanto da contratação de superiores e subordinados preparados, evitando, desta forma, passivos indenizatórios desnecessários. Assédio moral não é bom pra ninguém- pra nenhum dos lados.
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