Para saber qual é a real
extensão do dano que o assédio moral produz na vida de uma pessoa basta que
façamos uma reflexão que nos levará a concluir esta asserção e mais,
identificaremos o teor de injustiça que contém.
Quando começamos a pensar
em ter uma vida profissional procuramos de imediato uma forma de qualificação
condizente com as aptidões que possuímos e que nos proporcione o acesso ao
mercado de trabalho. Isso tem um custo: de tempo e dinheiro, mas é encarado
como um investimento, pois se pretende na linha final uma vaga em uma empresa
para que possamos desempenhar uma atividade e sermos pagos por nossa força de
trabalho. A empresa, por sua vez, quer alguém produtivo para que lá na frente
obtenha o lucro desejado.
Nada disso acontece da
noite para o dia e sem nenhuma dedicação, mas ao contrário exigirá esforço e um
senso de objetivo apurado quer seja para atuar em empresas privadas quanto nas
públicas. O esforço, então é coroado com o resultado pretendido. Este é o
caminho e é desta maneira que a coisa acontece normalmente.
Uma vez locado, suas
atividades começam e uma rotina se estabelece. Começam novas amizades,
pressões, e vontade de fazer tudo certo e que tudo decorra bem. Em outros
momentos, acontecerão erros que serão corrigidos, mas dentro de níveis
esperados. Simultaneamente diversos projetos são concretizados: é o carro que
se desejava a tempos, o imóvel, o casamento etc.
Não é preciso dizer que
tudo isso cria uma esfera de felicidade e realização sobre qualquer um já que
produz resultados bons. A sequência natural são as promoções e ascensão
profissional e salarial. Acredito que não deva ser muito diferente em qualquer
lugar do mundo com uma ou outra diferença de ordem cultural, mas dentro da
chamada globalização que padronizou tudo no planeta.
A palavra normalidade foi
escolhida de propósito porque deixa claro que permite dentro de certo intervalo
que determinadas circunstâncias ocorram sem que sejam encaradas como
prejudiciais necessariamente. É o stress por detrás das metas, prazos e
resultados possíveis de se atingir. Perceba que não foi adicionado ao processo
a ganância e o lucro predatório ou mesmo a corrupção.
Pois bem, já que entramos
neste assunto, surgem, aí, alguns fatores que desencadeiam processos de assédio
moral. Independentemente de seus deflagradores o fato é que em algum momento
alguém se incomodará com seu sucesso e decidirá tirá-lo de você. O que ele
justificará para desencadear processos persecutórios que culminem com a
destituição daquilo que foi construído com dedicação, esforço e sacrifício, não importa. O agressor decidiu que te prejudicará, e pronto. Simples, assim.
Sua imagem deverá ser
desconstruída, sua capacidade deverá ser questionada, suas ideias minimizadas,
erros evidenciados ou criados, ou seja, sua vida deverá ser infernizada somente
porque determinada pessoa assim o quis.
Gritos, insultos, difamação,
estigmatização, menosprezo, desprezo e outras condutas abusivas que desencadearão
sentimentos negativos e afetarão suas emoções para que produzam insegurança em
sua vida e coloquem seu emprego sob-risco. A ideia é que pela pressão a pessoa
desista de seu posto de trabalho e peça demissão ou seja conduzida por justa causa para que não se arque com os custos indenizatórios.
Aliás, descobri que
assediadores adoram prejudicar pessoas, mas detestam assumir a consequência de
seus atos. São excelentes transgressores de normas e regras, mas péssimos
ressarcidores de prejuízos. Curiosamente utilizam das leis e da justiça para se
safarem, muitas vezes contando com setores jurídicos equipados e constituídos
de advogados prontos a lhes prestar consultoria, isso, quando não vão além,
contando com parceiros de sociedades fraternas que possuem indivíduos de todos
os setores, incluindo os judiciais.
Ora, em lugares assim, porque se preocupar com punibilidade e sanção já que se pode lançar mão de
artifícios e ardis de natureza questionável sob a ótica constitucional. Minha
advogada, por exemplo, sentiu na pele o que estou dizendo quando os documentos
de minha ação sumiram do cartório do fórum trabalhista sendo atualmente objeto
de inquérito interno. Fora o fato de um determinado juiz ter pedido para sair
do caso por ser, digamos, “amiguinho” da ré (empresa que trabalho), isto é,
frequentam a mesma loja aqui em Santos, mas pelo menos teve a decência de se
identificar como impedido.
Neste quadro, fosse você
um assediador, teria qualquer preocupação em abusar psicologicamente de algum
subordinado? Não, né! Nem eles. Essa é a vida de quem se sente intocável. O
detalhe é que trabalho numa empresa pública, tive que prestar concurso para
entrar e me foi exigido uma série de coisas para ser admitido. Eu disse empresa
pública, né? Pois, é! Se a empresa é pública por que é, então, que grupos
tomaram a posse dela como se deles fossem, ou, a extensão de determinada fraternidade.
Aliás, gostaria que alguém que frequentasse alguma delas, aqui ou fora do
Brasil, me explicasse por que é que tais lojas estão se tornando covil de
bandidos e se distanciando de suas raízes centenárias.
Pois, bem! Sua vida,
então, muda do dia para a noite e você se vê acuado, isolado, estereotipado e
presencia agentes forjarem toda sorte de mentiras, em inquéritos encomendados,
solicitando sua demissão por justa causa. De tanta pressão, adoece e cai em
depressão. Durante sua ausência não dão trégua e não há o mínimo de sensibilidade
diante de sua recuperação. Lembra? Eles são covardes.
Seus projetos passam,
então, a ser postergados e tudo se altera em sua vida: relações, atividades,
rotina, etc. Tudo porque um assediador decidiu influenciar sua vida para lhe
prejudicar.
A constituição diz que as
empresas possuem caráter social, isto é, devem existir não só pelo lucro, mas
com um fim de dignidade. Mas, determinadas pessoas ou grupos detestam a
democracia, os direitos fundamentais ou personalíssimos, e tudo o que se
relacione com a dignidade da pessoa humana, pois seu objetivo final é o poder e
o lucro a qualquer custo, onde os fins justificam os meios. Tanto faz se for
por meios ilícitos, corrupção, esquemas, fraudes, etc. Quem é dado a tais
práticas irá se importar em estraçalhar trabalhadores?
Portanto, fica claro que o
assédio moral é um tipo de violência contra o trabalhador que deve ser
combatido incansável e inabalavelmente, de preferência via judicial, mas também
pela visibilidade dada à ambientes e empresas que se prestam a este tipo de
postura réproba.
Em alguns casos talvez a
denúncia deva ser dada por via indireta como nos casos de corrupção, nepotismo,
fraudes, onde tais agentes se envolvam deixando um rastro de outros ilícitos que
os deixam vulneráveis e com algo a perder.
De qualquer forma, se calar,
se intimidar e ceder aos assediadores somente os fortalecerá. Por isso, que a
sociedade precisa se mobilizar e se rebelar contra esta forma de perversão que
solapa os lares de trabalhadores (as), homens e mulheres honestos, cidadãos e
cidadãs dignos, que têm suas vidas invadidas por bandidos camuflados.
raniery.monteiro@gmail.com
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