Pular para o conteúdo principal

Realidades

Como vemos o mundo, tem muito a ver com nossa capacidade de percepção, isto é, de como utilizamos os filtros mentais para chegar a alguma conclusão da realidade.

Esses filtros mentais são como lentes que captarão as impressões que temos de tudo ao nosso redor. Eles são construídos pelos anos afora desde nosso nascimento.

Sendo assim, preconceitos, pressuposições, ego, projeções, frustrações entram na construção destas habilidades que nos farão perceber o ambiente. E por aí já deu pra ver que dificilmente enxergamos o mundo como ele é de fato, mas conforme as interpretações que fazemos dele.

Um chefe me disse uma vez: " quando eu vinha para falar com você já me armava de tanto que diziam a seu respeito". Não era uma conclusão dele. Era uma percepção terceirizada que bloqueava sua própria capacidade de me avaliar. Somente quando ele decidiu ver por si mesmo quem eu realmente era é que pode tecer suas próprias conclusões, incluindo qualidades e defeitos que possuo como todos nós.

Eu costumo dizer que nosso cérebro gosta de preencher lacunas. É cômodo, fácil, rápido e, se tiver alguém em especial no foco da situação, um gostinho de intriga, afinal, que gostoso é detonar alguém que invejamos e nos ameace. É, ou não é, hein? Aliás, pergunte a um invejoso se ele se vê assim. Nunca conheci alguém que admitisse ser um. Não é engraçado?

Veja os conflitos que ocorrem no ambiente do trabalho, por exemplo. Sempre tem alguém de que não simpatizamos, ou, ao contrário, gostamos mais. É gente de todo tipo. Seres humanos como eu é você, mas, com mais defeitos que eu, claro. Preencha questionários de pesquisa para admissão onde tenha que apontar defeitos e qualidades e sinta como é difícil achar defeitos em si mesmo.

Agora, pegue está miríade de fatores, coloque um monte de gente em processo de produção, chame isso de trabalho e dê ao local o nome de empresa. Pronto! É um prato cheio para o conflito. Pra melhorar, infle o ego das pessoas e tenha opinião própria e divergente delas- acabou de arrumar inimigos.

Pegue um chefe autoritário, que acredita que sabe tudo sobre tudo, dentro de uma organização arcaica ou cujos valores estejam alicerçados sobre bases onde fins justificam meios, seja você mesmo e ouse não abaixar a cabeça para o, então, macho alfa e...bingo! Acabou de entrar para o clube dos assediados moralmente. Seja muito "mal vindo"!

Agora, os nossos filtros são competitividade, metas, flexibilidade, qualificação-isto para empresas particulares; nas públicas, temos corrupção, esquemas, fraude, feudo etc. São lugares onde a realidade não somente é subjetiva quanto relativa. A cada segundo um universo novo surge dependendo de quem assume (o cargo).

Nesses dias, por exemplo, um chefe me constrangeu na frente de um colega alegando cobrança disciplinar em um ponto de menor importância em relação a outros muito piores. Ele mesmo, em outra ocasião veio me contar de uma funcionária que havia batido seu ponto e ido para casa, só voltando à empresa ao fim do dia para efetivar sua saída. Este fato sim, é grave, mas foi negligenciado pelo disciplinador chefe. Então, vemos aqui o chamado dois pesos e duas medidas. O mesmo tratamento que me fora dado, por exemplo, não é oferecido ao filho de um outro chefe que mais parece um pano de chão humano dado a sua dependência química, enfim, são percepções.

E quanto ao inverso? Quando se sofre a agressão? Da mesma forma o conjunto de filtros que desenvolvemos interferirá, muitas vezes superdimensionando, em alguns casos, os fatos, ou mesmo a capacidade do agressor em nos prejudicar. Sob o stress dificilmente conseguimos dimensionar toda a dinâmica que se desenrola durante o processo de assédio moral.

Se o diagnóstico piorar ocorrendo dano psíquico não é preciso ser médico pra saber que definitivamente a realidade não será vista com objetividade. E perceba, então, o quanto o assédio moral é danoso se pensarmos que possui uma capacidade de alterar a realidade percebida.

O agressor sabe que estimulando os sistemas de defesa da pessoa bloqueará sua capacidade de ler o ambiente com precisão, ou melhor, próxima do real. A conclusão é que nesses casos a melhor coisa a fazer é recuperar a razão e buscar entender como se processa a violência. O que, definitivamente não é fácil.

Se eu me enxergar como vulnerável emitirei uma mensagem ao agressor que o incentivará a atacar. Portanto, alimentar seu sadismo com o medo não é a melhor coisa a fazer, mas é o que acontece, daí o índice de sucesso apontando favoravelmente aos assediadores.

Seja como for, independentemente dos mecanismos de percepção intrínsecos de cada parte (agressor/ vítima), fato é, que o assédio moral não deve ser justificado sob hipótese alguma, muito menos sob quaisquer justificativas. É por isso que uma sociedade se estrutura em direitos e deveres normatizando o comportamento humano para que cada um não faça aquilo que quer em detrimento do direito alheio.

O Direito não pode se dar se dar ao luxo de esperar que o ser humano passe por um processo de auto reflexão de sua consciência aguardando uma mudança interior, por isso transfere está tarefa a outros setores da atividade humana como a religião ou a moral. Muito melhor seria se nós seguíssemos um caminho consciente por iniciativa, mas, como sabemos, isso não acontecerá.

A realidade muda com a mudança da mente. Se cada um de nós parar um momento e olhar pra dentro de si mesmo, identificar pontos a melhorar e se propor uma mudança, mínima que for, talvez começamos a mudar alguma coisa no mundo. É uma mudança de percepção. 


Raniery

raniery.monteiro@gmail.com
@Mentesalertas
http://mentesalertas.tumblr.com/
http://mentesalertas.wordpress.com/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ninguém chuta cachorro morto

A expressão significa que as pessoas não atacam quem não tem valor, é insignificante, medíocre, mas alguém que possui características ou qualidades que incomodam e por isso as ameaça, daí porque utilizarem deste recurso numa tentativa de a diminuírem de alguma forma ao mesmo tempo em que se projetam. É da natureza de determinadas pessoas, que por uma inadequação interna, sentirem-se inferiores a outras, não pela suposta superioridade destas, mas pelo seu desajuste psicológico. Por isso, para alcançar o equilíbrio de seus centros emocionais praticam uma espécie de projeção imputando ao alvo de sua fúria seus próprios fantasmas internos. Este recalque as leva, então, a inventar boatos, viver em mexericos pelos cantos, disseminar a intriga e semear a discórdia contra a pessoa que vêm como sua competidora natural. E como se sabe que o problema é do desajustado? Simples: percebendo que a cada momento se elege um novo candidato ao posto de alvo. Sempre alguém não prestará ou será

Eu, eu mesmo e...somente eu!

Nada é mais difícil de lidar que uma pessoa narcisista . Elas se acham a última azeitona da empada e acreditam que as pessoas existem para lhes servir.  Se arrogância pouca é bobagem, imagine, então, um ambiente que lhe proporcione manifestar a totalidade de sua megalomania. No filme de animação, Madagascar, há dois personagens que traduzem perfeitamente o estereótipo do narcisista: o lêmure, rei Julian e Makunga o leão ambicioso e ávido pelo poder. O rei dos lêmures, Julian, se ama e se adora e acredita firmemente que tudo acontece em sua função. Com uma necessidade incomum de ser admirado faz de tudo para aparecer e chamar a atenção. Já o leão Makunga encarna o tipo de vilão asqueroso, dissimulado e traiçoeiro que sempre está planejando algo pra puxar o tapete do leão alfa. Nas relações onde o assédio moral é forma de interagir, tais figuras estereotipadas e sem noção aparecem por trás de atos inacreditáveis de egocentrismo crônico.  Não podem ser contraria

Cuecão de Couro?

Se a vida imita a arte eu não sei, mas em 1994, na comédia pastelão Ace Ventura Detetive de animais, a vilã Tenente  Winky no final da trama é desmascarada e ...bem, assista ao filme. De qualquer forma, tão surpreendente quanto a inusitada cena foi a confissão de um Seal americano através de uma rede social- ele trocou sua foto em seu perfil pela de uma mulher alta, morena, com uma blusa branca, sorrindo diante de uma bandeira americana. E escreveu: "Tiro agora todos os meus disfarces e mostro ao mundo minha verdadeira identidade como mulher". Chris Beck trabalhou 20 anos no Navy Seals, um comando especial da Marinha dos EUA que frequentemente faz operações secretas em territórios inimigos. Mas ao longo desse período o oficial guardava um segredo pessoal: desde a infância, ele sentia que era uma mulher nascida em um corpo masculino. Leia mais... Quem imaginária nos seus mais loucos sonhos que um camarada machão como esse escondia uma princesa desesperada por carin