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É ou não é?


A mentira é considerada um mecanismo de defesa eficiente na busca pela sobrevivência, sobretudo entre os animais selvagens onde isso pode significar a diferença entre a vida e a morte, no caso, como refeição de um predador.

Entre nós (humanos) não é diferente, e, nisso, somos mestres. Todos mentem, sem exceção e o que pode variar é o grau de consequências deste ato. Segundo Eugenio Mussak é educador e escritor, “a mentira pode ocorrer de maneira consciente ou inconsciente. Em sua forma inconsciente, acontece um processo denominado pela psicologia de mecanismo de defesa, que pode ser de três tipos: negação, projeção e introjeção. Negamos as sensações dolorosas, como se não existissem. Projetamos nos outros, ou nas coisas, fatos nossos que nos são repugnantes. Introjetamos objetos de desejo, que podem ser coisas ou pessoas, como se fossem nossos”.

O Educador aponta ainda que a mentira consciente é aquela em que sabemos que estamos distorcendo a realidade deliberadamente. Quando mentimos, temos consciência disso. E é exatamente nesse ponto que temos a possibilidade de escolher se queremos faltar com a realidade ou não.

Mas, por que mentimos? Para a psicologia fazemos isso por um mecanismo de defesa, já sociologia aponta a busca do poder como explicação, a filosofia pela imperfeição humana e a religião pelo pecado. Sejam quais forem as explicações, nenhuma isenta de culpa, ou melhor,  de dolo o mentiroso.

Mas, entre nós, desde nossos ancestrais mais longínquos a questão moral determinava duras punições e exclusão do grupo que fosse pego nesta artimanha tentando levar vantagem sobre o outro podendo ser até condenado à morte. Se fosse banido praticamente seria equivalente a esta pena já que ficaria exposto e sem proteção podendo ser alvo de inimigos ou da própria natureza.

Se mentir é reprovado segundo nossa cultura moral por outro lado não é crime, mas sabemos que nenhum delito acontece sem este meio. Você já mentiu alguma vez, mas isso não o tornou um criminoso, porém me diga se em algum momento da vida conheceu algum ladrão, por exemplo, que não fosse mentiroso?

E por que dizer verdade é importante fora sua obviedade? Por uma questão de segurança e confiança nas relações e interações, a chamada boa fé. Não fosse isso, viver em sociedade seria um caos; tanto que em lugares onde isso é uma prática é exatamente o que ocorre.

Veja os órgão e empresas públicas que são o braço do Estado nas relações com seu administrado: nós. Já pensou se estes entes públicos agissem pela mentira ou o embuste mesmo sendo obrigados somente a fazer o que a lei diz? O que se caracterizaria? O abuso, oras! 

Mas, como seria isso possível se o próprio Estado diz em sua carta máxima que proíbe e que limita este tipo de conduta danosa à própria democracia? Por isso que ele (o Estado) previu sanções a si mesmo justamente para limitar e controlar seu poder e assim manter um equilíbrio.

Acontece que o que deveria ser de conformidade com a norma é desafiado todos os dias por agentes que representam esse mesmo Estado e que são pagos para servir ao interesse público, mas infestam estes órgãos e empresas de forma parasitária disseminando todo tipo de ilícito e maculando este princípio tão importante.

Como só posso falar daquilo que conheço, sei muito bem o que estou dizendo, pois junto a alguns colegas corajosos encaminhamos uma série de denúncias ao MPT, de irregularidades que acontecem somente em nosso setor e de forma descarada a empresa em suas réplicas mentiu aos procuradores.

Dia desses, de posse de uma cópia do inquérito civil, mostrei aos colegas, como um grupo de pessoas que se instalaram de forma maquiavélica para se beneficiar, ao mesmo tempo  em que promovem ações persecuritórias, de caráter danoso, agem sem escrúpulos e de forma sórdida tentam manipular até mesmo órgãos fiscalizadores e a própria justiça.

À medida que liam as respostas que o jurídico da empresa encaminhou ao MPT, meus colegas e superiores começaram a rir de indignação diante do disparate que era o que diziam em contraste com a realidade de nosso dia a dia.

O hilário é que, com a lei de acesso à informação, que divulga informações de servidores públicos, basta um clique no site que podemos desmascará-los em suas mentiras que de nada têm de mecanismos de defesa, mas apontam para irregularidades seríssimas e me faz entender que a cultura de assédio moral que existe por lá encontra raízes muito mais profundas e crônicas de um submundo sujo, podre e insidioso.

Por isso que uma luta contra o assédio moral pode acabar desmontando toda uma indústria de corrupção e improbidades que não se tinha conhecimento; o que me leva a questionar a inteligência destes assediadores que acabam atraindo sobre si uma visibilidade desnecessária que pode causar muito mais prejuízos no que diz respeito aos seus envolvimentos ilícitos; por outro lado, fica claro o seu desespero em agredir para intimidar e fazer calar aquele que está sendo perseguido.

Posso concluir, então, que resistir ao assédio moral e seu mundo de mentiras é um ato de cidadania e defesa da democracia, e, sobretudo, que esta espécie de subterfúgio nada tem de inocente, mas é destrutivo e perverso devendo ser punido para que deixe de ocorrer.
Raniery


raniery.monteiro@gmail.com


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