Pular para o conteúdo principal

Esse rottweiller é Lassie


O assédio moral é um fenômeno que vem sendo estudado e decodificado clinicamente pelos cientistas do comportamento sob os seus diversos aspectos e sujeitos. Hoje, já é possível se definir claramente como esta violência se processa.

É conceituada como violência silenciosa e perversa e o agressor é identificado como perverso narcisista que diferentemente do narcisista clássico possui uma perversão da perversão, já que não se admira como aquele, mas se odeia por ter uma autoimagem ruim.

O assediador não é necessariamente sádico, mas age de forma velada e insidiosa e baseia-se numa forma de poder exercido sobre o outro, muito menos por uma questão de satisfação, muito mais por um mecanismo de defesa distorcido.

O agressor não reconhece e nega descaradamente a violência num cinismo ímpar.  Os discursos são alinhados entre os vários setores da empresa que ele procura envolver, e, que se prestam a estas práticas, numa teia que absorve a pessoa invisivelmente e que dificilmente consegue perceber o mecanismo de enredamento que se desenvolve ao seu redor.

É um processo onde há a inversão de papéis de forma deliberada, mas velada, onde o outro é culpabilizado integralmente pela situação. A idéia é inteligente, uma vez que cria confusão e introjeção por parte da vítima que internaliza as acusações e isenta o agressor.

É cruel porque não se permite que o envolvido perceba o que acontece para que ele não possa se defender, evidentemente. É o princípio da covardia, mas isso não incomoda quem é inescrupuloso, pois não se afeta por questões éticas ou de ordem moral.

O que se pretende é demolir gradativamente a autoestima e a harmonia interior da pessoa para que, uma vez, desequilibrada, seja alvo fácil de derrubar.

É pela falha interna do agressor que o impele a exercer domínio sobre o outro como uma forma de equilíbrio interno e estabilização de uma autoimagem deficiente e insegura. Paradoxalmente sem o outro ele não é nada, ainda que o deteste e o admire simultaneamente.

O agressor atua pelo mecanismo de projeção ao canalizar no outro aquilo que sente como ruim em si mesmo de forma recalcada. Assim, ao mesmo tempo em que desconstrói seu alvo suga dele invejosamente o que tem de melhor para, desta maneira, fortalecer seu ego enquanto desvaloriza o ego da vítima.

É como se o assediado funcionasse como um espelho que projetasse duas imagens: uma do próprio agressor que revela o que ele é, e detesta; a outra com as qualidades do perseguido que o assediador tanto almeja, mas não poderá ter.

Sentindo-se ameaçado pelo outro o paranóico agressor de forma desesperada passa a querer controlá-lo e reforça pelo domínio uma idéia de poder que se utilizará do medo e ansiedade disparados na vítima para neutralizá-la.

No fundo, o agressor deseja o outro quase que de forma sexual e, em alguns casos evidencia até uma homossexualidade inconsciente como me disse um psicanalista, o que não me foi surpresa alguma, pois o que mais explicaria tamanha obsessão em chamar- me a atenção por parte dos agressores que me assediam onde trabalho?

Aliás, lembrei-me de uma história que foi objeto de uma matéria em um jornal local que trabalhei. Os jornalistas do caderno policial me contaram de um episódio envolvendo um assediador moral de uma construção.

O camarada era a encarnação do mundo cão, o demônio, o valentão que tocava a obra com punhos de ferro a toque de chibatadas. Num belo dia, os operários chegaram ao local de trabalho e escutaram urros de dor vindos do dormitório do referido chefe que dormia lá mesmo, na obra. Pensando em se tratar de algum problema com o machão foram tomados de surpresa por uma cena inusitada que mudaria a história de todos e acabaria com as perseguições.

Acontece que o rapaz sentia-se muito solitário e quando todos partiam passava a praticar o chamado sexo seguro, mas solitário. Não, ele não se masturbava necessariamente. O que fazia era utilizar os chamados brinquedos adultos, só que de forma improvisada. Na realidade, ele esquentava água e enchia uma garrafa de refrigerante e introduzia. Só que naquele dia deu azar e a garrafa estava de mau humor, pegou pressão e foi toda, digamos, buraco adentro. Não é preciso dizer que aquilo lhe causou um mal estar danado, né? Mas, o pior ainda estava por vir, ou melhor, tinha acabado de chegar: todos os peões da obra. Eles o socorreram e chamaram a ambulância que o conduziram ao hospital para a remoção do brinquedinho sinistro.

Enfim, o fato não estabelece uma regra, mas nesse caso toda aquela fachada se desmoronou por causa de um acidente e expôs a verdadeira face do valentão.

Pelo exposto se descobre que o que pode desencadear um processo de assédio moral é a desestrutura do agressor que se sente ameaçado ao mesmo tempo em que inveja as qualidades do assediado. A contradição se instala quando se odeia ao mesmo tempo em que se admira o objeto que se pretende controlar. A única falha deste raciocínio ocorre quando o assediado não concorda com esse mecanismo.

Agora, se todo desequilibrado que cruzarmos por aí decidir que irá nos atormentar por causa de sua inadequação estaremos perdidos.

Portanto, cada problemático que cuide de sua neurose ou que bata a cabeça na parede para solucionar sua doença mental, pois não dá para ficar sendo refém de atormentados toda vez que um decide chorar para a mamãe porque é mimadinho.
Raniery
raniery.monteiro@gmail.com


Comentários

  1. Realmente meu caro Raniery, tem de haver alguma explicação bem esdrúxula para tanta insanidade.
    Pobres de nós, meros mortais, quando nos deparamos com essas criaturas. Nem sempre temos a sorte desses peões da obra, que ao menos puderam ver a verdadeira face do rottweiler.

    ResponderExcluir
  2. Pois é, minha amiga, qualquer que seja o diagnóstico ou a explicação, pouco me importa, pois não se justifica sob hipótese alguma.
    Eu não sou para raio de demente para ficar sendo descarrego de suas anomalias.
    Pelo menos através dessas análises comportamentais chegamos a alguma conclusão, muito mais par anos defendermos que para nos resignarmos.
    Forte abraço companheira!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Ninguém chuta cachorro morto

A expressão significa que as pessoas não atacam quem não tem valor, é insignificante, medíocre, mas alguém que possui características ou qualidades que incomodam e por isso as ameaça, daí porque utilizarem deste recurso numa tentativa de a diminuírem de alguma forma ao mesmo tempo em que se projetam. É da natureza de determinadas pessoas, que por uma inadequação interna, sentirem-se inferiores a outras, não pela suposta superioridade destas, mas pelo seu desajuste psicológico. Por isso, para alcançar o equilíbrio de seus centros emocionais praticam uma espécie de projeção imputando ao alvo de sua fúria seus próprios fantasmas internos. Este recalque as leva, então, a inventar boatos, viver em mexericos pelos cantos, disseminar a intriga e semear a discórdia contra a pessoa que vêm como sua competidora natural. E como se sabe que o problema é do desajustado? Simples: percebendo que a cada momento se elege um novo candidato ao posto de alvo. Sempre alguém não prestará ou será

Eu, eu mesmo e...somente eu!

Nada é mais difícil de lidar que uma pessoa narcisista . Elas se acham a última azeitona da empada e acreditam que as pessoas existem para lhes servir.  Se arrogância pouca é bobagem, imagine, então, um ambiente que lhe proporcione manifestar a totalidade de sua megalomania. No filme de animação, Madagascar, há dois personagens que traduzem perfeitamente o estereótipo do narcisista: o lêmure, rei Julian e Makunga o leão ambicioso e ávido pelo poder. O rei dos lêmures, Julian, se ama e se adora e acredita firmemente que tudo acontece em sua função. Com uma necessidade incomum de ser admirado faz de tudo para aparecer e chamar a atenção. Já o leão Makunga encarna o tipo de vilão asqueroso, dissimulado e traiçoeiro que sempre está planejando algo pra puxar o tapete do leão alfa. Nas relações onde o assédio moral é forma de interagir, tais figuras estereotipadas e sem noção aparecem por trás de atos inacreditáveis de egocentrismo crônico.  Não podem ser contraria

Cuecão de Couro?

Se a vida imita a arte eu não sei, mas em 1994, na comédia pastelão Ace Ventura Detetive de animais, a vilã Tenente  Winky no final da trama é desmascarada e ...bem, assista ao filme. De qualquer forma, tão surpreendente quanto a inusitada cena foi a confissão de um Seal americano através de uma rede social- ele trocou sua foto em seu perfil pela de uma mulher alta, morena, com uma blusa branca, sorrindo diante de uma bandeira americana. E escreveu: "Tiro agora todos os meus disfarces e mostro ao mundo minha verdadeira identidade como mulher". Chris Beck trabalhou 20 anos no Navy Seals, um comando especial da Marinha dos EUA que frequentemente faz operações secretas em territórios inimigos. Mas ao longo desse período o oficial guardava um segredo pessoal: desde a infância, ele sentia que era uma mulher nascida em um corpo masculino. Leia mais... Quem imaginária nos seus mais loucos sonhos que um camarada machão como esse escondia uma princesa desesperada por carin