O que é que todo homem ou
mulher deseja? Ser feliz. Tudo o que fazemos tem este caráter positivo mesmo
que no seu percalço não o seja. Ninguém quer ser infeliz. Mas, felicidade é um
conceito abstrato e pessoal, ou seja, é subjetivo. E como se consegue felicidade?
Como se faz para pegá-la, obtê-la, tomar posse?
Com essas perguntas em
mente penso que canalizamos nossa busca por felicidade em coisas, símbolos,
formas, sobretudo no mundo ocidental orientado por uma filosofia capitalista de
consumismo.
Nesse afã pela conquista
suprema queremos o sucesso a qualquer custo e o conquistaremos obsessivamente.
Veja que não estou dizendo que há algo de errado em se querer a felicidade, o
sucesso ou bens materiais; em hipótese alguma, pelo contrário, se as
buscarmos de
maneira saudável nos realizaremos.
Este sucesso pode ser
identificado por cada pessoa de forma diferente. Para um aluno do ensino médio
será passar no vestibular; para um concurseiro, a vaga disputada; para o
candidato a um cargo político, será ganhar as eleições. É aquilo que te atrai e
tem características de valor para você que será elencado como sucesso se o
conquistar. Pode-se dizer, então, que segundo este modelo sucesso seria:
estabelecer e atingir objetivos.
Nos exemplos dados, porém,
ocorre uma situação em comum: a disputa. Muita gente quer a mesma coisa em
número menor do que aqueles que a almejam. Não será diferente em outras
circunstâncias da vida. Surge daí o elemento conflito. Eu quero algo que você
também quer, mas pretendo que você desista sendo esta a sua pretensão também.
Complicado, não é?
Dentro deste raciocínio a
palavra controle emergiu diante de mim como algo relativo, pois, algumas coisas
controlamos, outras não. Decidimos que roupa vestir, o que comer, que carreira
seguir, mas não, se choverá amanhã, se sofreremos um acidente, se atrairemos a
simpatia de alguém.
No caso dos objetivos em
comum, a coisa se torna mais complexa ainda, já que ela nos levará à
competição. A disputa estabelecerá que pelo menos um, sairá derrotado, e, não
poderá atingir seu objetivo, pelo menos naquele momento. Logo, terá que
trabalhar a frustração que surgirá. Ficará infeliz? Parece que sim.
Pois bem, supondo que se
alcançou o que se quis e passou naquele concurso dos sonhos ou está trabalhando
naquela empresa bacana. Objetivo atingido é sucesso, não é mesmo? Mas, em
determinado momento surge a figura do assediador local, que não possui
parâmetros razoáveis de comportamento e decide atrapalhar seu ideal de
felicidade. É possível controlar pessoas? Dá para ter domínio sobre as
intenções de alguém? Não!
E o que o agressor
pretende? Controlar o assediado. Usará seus mecanismos de defesa para isso e
disparará nele ansiedades para tirá-lo de seu eixo de equilíbrio. Mas, não foi
dito acima que pessoas não são controláveis? Sim; só que o assediador não lhe
dirá isso e o fará acreditar que o controla, caso você permita. É com a sua
permissão, portanto, que ele conduzirá a situação e fará o jogo de gato e rato
até terminar com você. Lembre-se: suas ações e comportamentos não são lógicos,
ele atua por meio de sua anomalia.
A conclusão até aqui é que
podemos controlar determinadas coisas e outras não. Parece que ficou claro.
Então, o que fazer? Viver a mercê dos acontecimentos e da perversidade de
determinadas pessoas e ver nossos sonhos ruir diante de nós, desencadeando
processos de frustração e por consequência nos tornarmos infelizes? Será que
não há resposta e somos mais uma engrenagem de um sistema cruel? Claro que não.
Acontece que este mesmo
sistema previu uma forma de controle sobre aqueles que são mais “fortes” que os
outros e abusam disso como no caso de empregadores ou chefes de empresas que de
forma covarde utiliza-se de sua posição como figura de autoridade para humilhar
subordinados.
O Direito é uma criação
humana de controle social que regula a vida em sociedade. Onde há o homem
vivendo de forma organizada, aí há o Direito disciplinando a vida em comum ou
coletiva. É o Estado que lhe empresta força, pois caso alguém decida violar
suas normas, será estabelecido uma punição como forma de se coibir tal atitude
que viole determinado valor social elencado. E por quê? Porque senão a anarquia
seria a regra e o caos se instalaria voltando-se a viver em estado de barbárie
e selvageria.
Voltando ao que podemos
controlar, se somos detentores dos objetivos que estabelecemos, e, isso diz
respeito somente a nós mesmos, poderemos pesar os pós e contras de determinadas
situações e usar nosso poder de adaptação para gerar mudanças positivas sobre
situações de crise como as do assédio moral.
Não existe somente uma
empresa para se trabalhar, um concurso para se fazer, uma só carreira para
seguir ou um negócio que ainda tenha se esgotado. O que importa não é sua
felicidade e realização? Mudanças nem sempre são ruins como pensamos e começar
de novo em outro lugar pode ser encarado como um desafio motivador. O
competente e qualificado tem a chave para abrir inúmeras portas.
Que um assediador deve
pagar pelo que fez, não tenho dúvidas, mas daí permitir que sua vida fique
destroçada indeterminadamente pelo trauma que ocorreu não me parece ser o
melhor caminho, ademais, seria exatamente isso que daria ao agressor a sensação
de poder e controle que pensa ter.
Resumindo, não podemos
controlar os outros e suas intenções; Não
controlamos tudo, mas podemos nos controlar, isto é, manter uma postura
adequada, ou melhor, adaptada, flexível, que permita seguir a vida sem maiores
transtornos: em equilíbrio. Não vou carregar para o
resto de minha vida alguém medíocre e fracassado que precisa pisar no outro
para se autoregular.
Lembre-se: águias voam
alto e seguem firmes no que querem, mas são as galinhas que vivem de ciscar em
seus mundinhos. Você é águia ou galinha?
Raniery
Leia também: Controle absoluto da vida
Afinal, o que é sucesso?
Sociedade, Direito e controle social
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