Recentemente fomos pegos de surpresa pela morte de uma família de Pms aqui em São Paulo. A perplexidade se deu nem tanto pela brutalidade da chacina, que infelizmente passou a ser uma rotina brasileira, mas pelas primeiras alegações do delegado responsável que aponta o filho de 12 anos do casal como o principal responsável.
Imediatamente pelas redes sociais e demais mídias deflagrou-se acaloradas discussões sobre se seria possível ou não que o crime tivesse sido cometido pelo garoto. Coisas como, “um garoto não seria capaz de atirar com uma pistola”, “ ele não dirige”, “imagine, é só um garotinho” passaram a ocupar a mente das pessoas com características de argumento.
É óbvio que é precipitado fazer qualquer afirmação nesta primeira e preliminar etapa de investigações, mas fica claro que as emoções estão à flor da pele e uma série de conjecturas começam a aparecer. Com certeza não é uma rede de TV, testemunha que faz depoimento sem ser em juízo, ou opiniões de quem não tem competência para investigar que poderão ser consideradas confiáveis. Isso demandará muito tempo ainda para se chegar a conclusões mais precisas e não será fundamentado em meras opiniões e falsas crenças.
Para os excessivamente crédulos que pensam que um garotinho não poderia cometer tais crimes, gostaria de chamar-lhes a atenção para que me acompanhem pelo mundo real onde nem tudo acontece como em um conto de fadas ou filmes da Disney e relembrem de inúmeros casos escabrosos envolvendo crianças que poderiam ser chamadas de anjos.
Aliás, na própria mitologia judaica há uma passagem que fala da união de anjos caídos com as filhas dos homens que teria concebido seres estranhos denominados nefelins que deram origem a homens gigantescos. Tais seres eram perversos a ponto de Deus pensar em exterminar o homem da face da Terra.
"E aconteceu que, como os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas,
Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram.
Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos.
Havia naqueles dias gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os homens de fama.
E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente."
Gênesis 6:1-5
Já a psiquiatria lida com um tipo de característica perversa denominada transtorno de personalidade dissocial que começa a ser detectada na infância e explica como uma criança poderia cometer crimes inimagináveis. Segundo eles se se acontecerem 3 ou mais dos itens abaixo no último ano e um ou mais no último semestre haveria uma grande possibilidade de estar se manifestando o transtorno de conduta que é um padrão de comportamento antissocial em meninos e meninas com mais de 6 anos e menos de 18.
No rastro da maldade
Mata aula frequentemente (começa antes dos 15 anos).
Passa a noite fora várias vezes contra a ordem dos pais (começa antes dos 13).
Foge da casa dos pais pelo menos duas vezes.
Persegue, atormenta, ameaça ou intimida os outros frequentemente.
Inicia lutas corporais.
Usa armas como pau, pedra, caco de vidro, faca e revólver.
É cruel com pessoas ou com animais a ponto de feri-los fisicamente.
Rouba ou assalta, confrontando diretamente a vítima.
Força alguém à atividade sexual.
Inicia um incêndio com a intenção clara de provocar sérios danos.
Destrói a propriedade alheia deliberadamente.
Arromba ou invade a casa ou o carro de alguém.
Mente e engana pessoas por ganhos materiais ou para fugir de obrigações.
Os tais casos nos chamam a atenção pelo fato de estar envolvido em meio ao sangue e tragédia, mas a grande maioria irá atuar em outro nível como o do parasitismo, roubo, fraude, corrupção, ou seja, serão os adultos de amanhã que por onde passarem causarão todo tipo de estrago que não será necessariamente ligado a homicídios.
Serão os políticos e empresários corruptos, funcionários públicos ímprobos, estelionatários de porta de banco, assediadores morais crônicos etc. passarão desapercebidos, pois são exímios atores que se camuflam criando personagens envolventes que chegamos a crer que são figuras angelicais acima de qualquer suspeita. Pensando assim, ficamos vulneráveis aos seus ataques e quando nos apercebemos, já é tarde demais para pensar em se defender.
Por isso que dizer que uma situação aparente ou que figura em nosso inconsciente como a inocência infantil é argumento para que um crime não seja cometido pode se tornar uma armadilha a ser usada contra nós. Quantos casos há de velhinhos, ou velhinhas, com cara de vovó que se envolvem com tráfico de drogas; ou de mulheres grávidas ou com bebê no colo que praticam os mais diversos crimes. Ao que parece basear nosso raciocínio apenas no aparente não é a melhor estratégia para avaliarmos a integridade das pessoas.
Só saberemos o desfecho do caso da chacina daqui a um tempo, mas com certeza eu não esperarei até lá para me acautelar daqueles que se apresentam com carinha de anjo, discurso de santidade, e aura divina para tentar levar alguma vantagem. Aliás, o que tem de gente por aí que na retórica é uma coisa e na prática é outra; e nem precisa ser psicopata.
Uma coisa é certa toda e qualquer avaliação precipitada é despojada de precisão, portanto deveríamos ser mais seletivos em nossos julgamentos e observar melhor as pessoas e suas intenções.
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