Pode-se definir mobbing como um ataque de um grupo contra um alvo considerado ameaçador, como predadores, por exemplo. Pode envolver indivíduos de mesma espécie ou de espécie diferentes. A ideia é a de espantar o indivíduo indesejável com barulho, ameaças, tormentos de forma sucessiva para forçá-lo a desistir de continuar naquele ambiente vencendo-o pelo cansaço.
Nos animais, este comportamento foi observado nas aves, esquilos e primatas. Nas pesquisas, os alvos eram os predadores naturais destes grupos. Esta estratégia de ataque se dá nas florestas principalmente por primatas diurnos que pelo seu grande porte são alvos de fácil detecção, e, portanto, como resposta fogem ou manifestam o mobbing.
O mobbing é um comportamento adaptativo, pois fornece resultados positivos para seus indivíduos, sobretudo na proteção de seus filhotes contra a predação. Ocorre que ao atacarem um predador podem ser predados ou ferirem-se e até gastar muita energia que deveria ser utilizada na busca de alimentos ou acasalamento. Desta forma, para considerarmos como comportamento adaptativo deve haver um mínimo de benefício que supere os prejuízos e valha à pena ser manifestado.
Além da reprodução e proteção à prole, outros pontos positivos podem ser destacados nesta estratégia: avisar o grupo (da mesma espécie ou não) da presença de um predador, ensinar os jovens a traçar o perfil de seus possíveis inimigos, fora o “marketing pessoal” ao demonstrar coragem, saúde e capacidades de reprodução.
Sabemos que nossos comportamentos são fruto da própria evolução enquanto espécie, sobretudo no que diz respeito ao nosso cérebro que se desenvolveu em complexidade no que diz respeito a outras espécies.
Temos vários cérebros em um. Cada parte especializada em determinada função. É a teoria do cérebro trino. O cérebro possui três níveis distintos (reptiliano, mamífero e neomamífero), se visto no sentido vertical. Funciona como um único cérebro com três divisões:
a) Cérebro reptiliano, que controla, por exemplo, a respiração, os batimentos cardíacos e as funções fisiológicas automaticamente.
b) Cérebro mamífero, que controla as emoções, a sexualidade e onde se encontra o sistema límbico, que cuida da autopreservação da espécie. Esta parte do cérebro tem papel preponderante na memória.
c) Cérebro neomamífero (o "córtex", a casca), que é privilégio dos seres humanos. É utilizado para a lógica, o raciocínio, a criatividade, a linguagem e a comunicação elaborada.
É o cérebro neomamífero que nos diferencia dos outros animais que transitam ainda em um mundo selvagem. Sendo assim, somos capazes de abstrair, relativizar, comparar, associar, entre tantas habilidades. Conseguimos até dominar nossos instintos. Digo, temos esta capacidade; temos esse potencial.
Já os animais, ditos irracionais, seguem determinados “programas” dentro de sua estrutura comportamental como ser territoriais, por exemplo. A sobrevivência é motivo de disputas, quer por alimento ou acasalamento. Neste contexto, ser o macho alfa é uma vantagem e tanto. Daí por que utilizarem de expedientes dramáticos como o mobbing.
Nos grandes primatas isto se torna evidente em demasia. Sendo uma espécie extremamente política lança mão de alianças para fortalecer seu poder frente ao grupo, através de um líder, e, diante de grupos rivais ou predadores. Os laços de hierarquia são extremamente fortes e amarrados. Desta forma, se determinado indivíduo do grupo não se enquadra no papel que lhe foi designado, passa a ser acossado pelo líder e seus comandados. As perseguições e ataques violentos tem um objetivo: expulsar o “transgressor” e livrar-se da concorrência.
Mas, esta é a descrição de animais primitivos com cérebros menos complexos que o do homem. Curiosamente, este, em determinados casos, desenvolve reações emocionais comparadas à daqueles. O assédio ou terror psicológico é uma dessas reações. O mais estranho é que o mobbing se dá em plena faculdade da razão. A intenção, inclusive, é determinante na aferição do assédio.
Fato é que não somos somente políticos, mas desenvolvemos cultura também, e, nisso, incorporamos a agressão moral como forma de manipulação e sujeição do outro. É o lado perverso da evolução. Mas, é preciso destacar que este tipo de mecanismo social anômalo é desencadeado por um número pequeno de indivíduos igualmente deslocados do padrão médio das pessoas e que são capazes de produzir um efeito contaminante no grupo que age como turba e perde o controle sobre seus atos.
A boa notícia é que se pode reagir de forma inteligente aos ataques de assediadores e sua gangue. A primeira coisa a fazer é controlar o próprio medo dos agressores e adotar uma postura mais racional diante da situação. Isto os confundirá, pois esperavam a desestabilização como poder intimidador e paralisador. Dar visibilidade a estratégia perversa faz com que o grupo de acossadores recue e se intimide diante dos demais, já que foram desmascarados e agora
estão diante do julgamento moral
de todos os indivíduos. A denúncia a
órgãos competentes fará com que,
pela punição, perca-se o estímulo, isto é, o “benefício” de assediar, já que o
desgaste é maior que o resultado esperado.
estão diante do julgamento moral
de todos os indivíduos. A denúncia a
órgãos competentes fará com que,
pela punição, perca-se o estímulo, isto é, o “benefício” de assediar, já que o
desgaste é maior que o resultado esperado.
De qualquer maneira, é preciso reagir diante de qualquer forma de violência e violação de direitos, pois a inércia fortalece o agressor.
Leia também: Como superar o ataque de agressores selvagens
raniery.monteiro@gmail.com
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