Há 10000 anos atrás viver era algo muito difícil já que o homem não era provido de técnicas sofisticadas de sobrevivência diante das hostilidades impostas pela natureza.
Nessa época, a Terra vivia um período climático de extremo frio e o homem paleolítico precisava desenvolver técnicas e hábitos capazes de adaptá-lo ao meio. Era nas cavernas que encontrava proteção e provavelmente foi lá que algo extraordinário aconteceu: a descoberta do fogo.
A partir do domínio deste poderoso elemento os homens pré históricos evoluíram diante das severas condições climáticas e selvagens, fora o fato de ter ocorrido uma mudança em seus hábitos alimentares.
Nômade, o homem deslocava-se em busca de alimentos que encontrava à sua volta, mas era preciso que isso fosse feito constantemente já que esgotavam-se os recursos e migrava para regiões com maior abundância de caça, pesca e vegetais. Sendo assim, precisava de ferramentas que fabricava à partir de ossos, madeira, marfim e pedra, daí o termo período da pedra lascada.
Competia e dividia o espaço com mamíferos gigantes como os mamutes e o temido Smilodon ou tigre dentes de sabre. Formava pequenos grupos que lutavam entre si pela disputa do território e consequentemente por seus frutos. Portanto, o perigo espreitava a cada sombra ou arbusto.
Por volta de mais ou menos 40000 anos, os povos paleolíticos passaram a viver em grupos mais populosos. Começaram a construir suas próprias moradias saindo das cavernas. No fim do Paleolítico, as temperaturas tornaram-se mais amenas e, a partir de então, foi possível o processo de fixação dos grupos.
Viage até aquele tempo e perceba como o medo do perigo era uma constante e a ameaça a vida era cotidiana. Mas, nosso organismo nos preparava para isso. Foi desenvolvido em nosso cérebro mecanismos de defesa com a função de trabalhar para a preservação da espécie. Com o maior cérebro entre os mamíferos, capacidade de criar ferramentas e disseminar cultura, nossa inteligência era o meio pelo qual permitia nos adaptarmos.
Desta forma, criamos armas para nos defender dos perigos; dominamos o manejo do fogo; refinamos pouco a pouco nossa tecnologia e a cada dia ficávamos mais eficientes, aliás, ultrapassamos esse limite.
É importante destacar outra habilidade que se tornou uma arma entre nós: a linguagem. Certamente através da comunicação ganhamos uma vantagem estratégica na árdua tarefa de sobreviver. E não estou falando somente da articulação verbal, mas da linguagem corporal também, com seus sinais, movimentos e um sem número de formas de se comunicar.
E nos tornamos tão bons que em determinado momento passamos a usar a fala como arma para atacar os de nossa própria espécie. É a agressão verbal. Não se pode falar de assédio moral sem incluí-la na brincadeira. Afinal, é por meio dela que um troglodita qualquer não somente ataca como manipula o grupo para atingir seus sádicos objetivos.
Lendo um livro nesses dias, o autor falava algo como "vencer qualquer um consegue, mas vencer fácil necessita de maiores habilidades". De início me veio as técnicas que devem ser aplicadas na realização de provas e concursos, pois, com isso, pode-se melhorar a performance e conquistar a vaga, por exemplo. Fato que aliás, pode ser comparado a uma guerra dada a disputa ferrenha que é. Mas, pensei: como posso aplicar este princípio às situações de agressão verbal dentro do assédio moral. Passar por isso não é nada fácil!
Comecei então a refletir em como desenvolver uma técnica capaz de anular as investidas de um agressor. Logo, lembrei de uma frase de uma pessoa que me ajudou muito- "Sr. Raniery, não alimente o agressor". Transformei isso em meu mantra pessoal. Funciona 99,99% das vezes.
Não alimentar o agressor é não cair em determinadas armadilhas como as provocações, por exemplo, que eles armam para te pegar. Se você for uma pessoa explosiva vai entender o que estou falando. E também cairá como um patinho.
Ocorre que pude por a prova a teoria de vencer fácil no assédio moral, pois naquela mesma semana o universo se encarregou de me tornar mais sábio enviando dois espíritos atormentados para me testar.
Acontece que neste mês se iniciou minha ação por assédio moral contra a empresa que trabalho e os "bichinhos" acusaram o golpe, ou seja, estão nervozinhos da "silva". Coincidentemente, os dois desequilibrados que foram tentar me provocar são mesmo doentes, isto é, dependentes químicos.
O primeiro, quando tá "careta" fica tenso e precisa escoar isso em alguém e, então, dirigiu-se a mim e me "orientou" em determinada conduta que, como aconselhou, me ajudaria. Para seu espanto, eu limitei-me a um "sim, senhor" e assinei meu ponto (que aliás, a empresa disse ao MPT não existir) e voltei a fazer o que estava fazendo. É óbvio que ele aguardava uma discussão, ainda mais sabendo que não é exemplo pra ninguém, viu! Mas, não foi desta vez, e, aquela criança saiu chupando o dedo.
O segundo, é tão miserável que chega a dar dó, já que vive bêbado em pleno horário de trabalho, e, cá para nós, é digno de pena quem logo cedo precisa de uma dose de álcool para se estabilizar. No caso em questão, um colega fez um comentário que eu divergi emitindo minha opinião, mas os dois estavam manifestando um desabafo, na realidade.
Então, a "voz da sabedoria" se aprumou e exclamou do profundo de seu conhecimento- "é como eu sempre digo: ou amea- a, ou deixe- a". A frase era direcionada à mim, e, para que você a entenda, basta saber que era um slogan utilizado na década de 70 pela ditadura militar e que no caso em questão seria o mesmo que dizer que se não está satisfeito, peça demissão.
O que se seguiu foi um silêncio sepulcral por eternos 5 secundos com uma mudança de assunto como se não existisse pessoa alguma ali. Constrangido, o agressor foi embora.
Os dois episódios demonstram, na prática, a possibilidade de se neutralizar uma agressão verbal adotando-se um comportamento mínimo e sem muitos aborrecimentos, de forma eficiente e que inverta o jogo, onde quem sai desestabilizado, é o assediador.
Aliás, gostaria aqui de público agradecer aos dois assediadores pela ilustração negativa que me permitiram fazer esta postagem.
Via de regra, jamais vi qualquer um deles resistir a argumentos sólidos. Portanto, é preciso antecipar- se ao assediador e manter um estado de tranquilidade atenta diante dele. E faz sentido se você pensar que o objetivo é te deixar nervoso, irritado, e, fazer com que você revide para justificar, então, uma insubordinação ou indisciplina diante dos outros.
Foi quando me lembrei das técnicas de defesa pessoal que utilizam a força do oponente contra ele em movimentos circulares e de alavanca. Da mesma forma que a cada força será gerada uma reação igualmente e proporcional, é razoável pensar que a quantidade de energia que um terrorista emocional impuser para tentar te desequilibrar será devolvida a ele se for neutralizada através desta espécie de jiu jitsu mental.
Conforme o autor do livro que li, é preciso harmonizar tanto defesa como ataque para produzir equilíbrio e vencer fácil, pois se somente priorizar a defesa será sinal de vulnerabilidade, por outro lado, se somente atacar significa cometer abuso. No final, busca- se o equilíbrio como nas artes marciais que não pretendem atacar alguém gratuitamente, mas defender- se de injusta agressão e desestimular um pretenso agressor.
Portanto, da próxima vez que seu agressor preferido vier te incomodar, lembre- se: não alimente o agressor.
Leia também: Como funciona a autodefesa verbal
Joyce Pascowitch: discussão sobre assédio moral
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raniery.monteiro@gmail.com
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