O
sistema econômico brasileiro em seus primórdios baseou-se na cultura de cana de
açúcar utilizando mão de obra escrava. Ao redor dos engenhos apareciam
verdadeiras cidades e comunidades inteiras passavam a depender deste tipo de
lavoura.
Eram
os escravos que forneciam a mão de obra necessária para que este tipo de
empreendimento desse certo e sem eles as coisas não seriam as mesmas. Esses
trabalhadores (homens, mulheres, crianças, idosos) eram tratados como coisas,
posses, ferramentas ou peças como eram chamados.
Posteriormente
foram os colonos e na sequência os migrantes que passavam, então, a viver em
subcondições e, com a mecanização da lavoura evidenciada pelo progresso, foram
aos poucos sendo descartados- sendo substituídos por máquinas muito mais
eficientes e com menor custo.
Sistema
capitalista e o assédio moral
Perceba
que a coisificação do ser humano não é novidade e com a ascensão do
capitalismo, isso não mudou, ao contrário é um pressuposto, já se tornou um
concentrador de renda e produtor de exclusão social. Aqui é o caso em que para
um ter muito, muitos trabalham para ele, ganhando muito pouco, e, desta forma,
o abismo social se evidencia.
Vários
modelos de administração foram propostos, mas todos não se afastam destas
premissas. Dessa forma, o trabalhador é encarado como um meio e não como ser
humano na plenitude de sua natureza. É visto, como uma peça; Substituível;
corte de custos, enfim, apenas uma forma de se atingir o lucro pretendido.
Ocorre
que, com esse pensamento, surge uma frieza formal que permite que situações de
perversidade e crueldade sejam entendidas como coisa normal e parte da relação
contratual. Qualquer resistência a esse modelo é imediatamente sufocada com
intimidações e ameaças e o trabalhador passa, então, por processos humilhantes
de degradação de sua condição e direito ao trabalho.
Como
coisas que são (segundo o sistema) os trabalhadores que não aceitarem estas
“regras” sofrerão o assédio moral que tem como objetivo forçá-los a abandonar
seus empregos e assim não gerar maiores custos de ordem social para as
empresas. Estas os contratam para que produzam ao máximo. E quando já as sugaram
até seu ponto de saturação são descartados como se nada fossem mesmo com anos
de dedicação.
O
cachorro pode lamber o pé do dono, mas não se tornará filho dele
É
importante notar que o dono do capital não divide com outros sua posição numa
relação de poder, sobretudo, econômica. Ora, sendo isto verdade, é razoável
crer que nenhum outro, ou apenas alguns poucos, terão a mesma condição que ele,
pois sua lógica não se processa desta forma. Sabe-se que o capitalismo não é
afeto a valores e princípios de ordem moral ou escrupulosa, muito mais próximo
de condições propícias à corrupção, fraudes e esquemas, pois neste universo os
fins justificam os meios e a ética não se casa muito bem dentro destes contextos.
Em
determinadas empresas, por exemplo, gestores contratam terceiros como
mecanismos de corte de custos, mas que na realidade funcionam como forma de
enriquecimento ilícito. Com contratos superfaturados e camuflados em seus
controles contábeis e fiscais o corrupto embolsa determinados valores e força
seus subordinados a trabalhar dobrado para cobrir o número real de terceiros
que ficou escondido pela fraude. É o mesmo processo importado das empresas e
órgãos públicos nas licitações fraudulentas. A implicação imediata disso é que
o trabalhador sobrecarregado que se rebelar será esmagado e expulso da empresa
via ações igualmente forjadas para encobrir a realidade.
Hobbes
e o homem como lobo do homem
Em “O leviatã” Thomas
Hobbes já teorizava que os homens em seu estado natural (instintivo) são lobos
de si próprios, isto é, se devoram e se destroem, mas, no momento em que
tomaram consciência de sua sociabilidade passam a estabelecer um contrato
social regulado pelo Estado ao qual entregam parte de sua liberdade.
Acontece que esse lado, digamos
mais instintivo, de certos homens, sobretudo motivados pela ganância ainda hoje
torna atuais as ideias do contratualista. Basta consultar os bancos de dados
jurídicos para constatar a quantidade de ações decorrentes de assédio moral
para constatar que os abusos acontecem todos os dias.
Não obstante as demandas
de processos no judiciário trabalhista, certos empresários ainda insistem em
manter este tipo de relação antiética em suas empresas que por serem os seus
criadores pressupõem poder absoluto e que estão acima das leis exatamente como
pensavam os senhores de engenho do Brasil colônia. Tocam seus negócios pela lei
da chibata e quem quiser que se adeque ou senão, rua! Subestimam as pessoas e
seus direitos à ação amparada constitucionalmente. Nestes ambientes não há
programas preventivos ou educacionais para correção da situação, ou, quando há,
torna-se mera formalidade como no caso da empresa pública em que trabalho.
Verdade é que de nada
adianta cursos de MBA ou campanhas motivacionais alegarem um novo modelo de
gestão se na prática o que se vê é o bom e velho capitalismo predatório em
ação. Um
tipo de capitalismo que promove o assédio moral já que só se importa com o
lucro e não com a dignidade da pessoa humana, logo, estabelece relações
desiguais sendo necessária a intervenção do Estado juiz para restabelecer o
equilíbrio.
Conclusão
Ao
longo dos tempos homens e mulheres de todas as eras tiveram que lutar contra os
arbítrios de tiranos que buscavam no controle do outro o estabelecimento de seu
poder. Isso ainda não acabou, portanto, se faz necessário que o poder de
resistência de cada cidadão(ã) se revigore e se manifeste contra a perversidade
e crueldade, pois, nas sombras e tocas
se
encontram.
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raniery.monteiro@gmail.com
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