Grávida é baleada em tentativa de assalto, Jovem indiana é atacada por gangue de estupradores, Champinha idealizou o crime, abusou e matou Liana
Algumas questões surgem em nossas mentes no instante em que nos deparamos com notícias chocantes como essas, entre tantas, destaco a da natureza humana, pois, nos parece inacreditável que um ser humano seja capaz de atos tão cruéis.
Tantas quantas são as questões suscitadas também o são as respostas dadas, em um ciclo que parece não ter fim, por causa da complexidade da tarefa, consequência da não menos complexa evolução do homem em sua trajetória.
E o que é natureza: por definição usual é a essência e as propriedades características de cada ser. Em relação ao homem, quando indagamos de sua natureza, a resposta comporta inúmeros complementos como o de sua origem orgânica, por exemplo.
Carl Sagan dizia que os humanos são feitos de poeira estelar. A afirmação diz respeito ao fato de sermos feitos dos mesmos elementos que deram origem às estrelas e aos demais corpos celestes. Veja os elementos químicos característicos dos seres vivos – como carbono, nitrogênio e oxigênio – são os mesmos produzidos no interior das estrelas. Quando uma estrela explode, esses elementos são liberados e incorporados às novas gerações de estrelas, planetas e às formas de vida que vierem a se desenvolver nesses planetas.
História da violência e conflitos humanos. Já em relação ao nosso comportamento, e, em especial, o violento, a história despeja vasto material que coloca nossa natureza em posição pouco privilegiada em comparação com os animais de outras espécies. A própria palavra "violência", que etimologicamente deriva do latim vis, com significado de força, virilidade, pode ser vista como positiva em termos de transformação social, no sentido de uma violência revolucionária, usada como forma de se tentar transformar uma sociedade em determinado momento.
No Egito dos faraós, a violência estava presente de várias formas. Descobertas arqueológicas revelaram a povoados de escravos, sob constante vigilância, habitado por artífices e operários especializados. Qualquer infração os sujeitava a castigos físicos.
Na Roma antiga, as penas, aplicadas após julgamento, ganhavam um sentido religioso. Despido de sua humanidade, o réu era sacrificado aos deuses. Segundo a pesquisadora Norma Mendes, "havia o firme propósito de fazer da morte dos condenados um espetáculo de caráter exemplar, revestido de sentido religioso e de dominação, cuja função era o reforço, manutenção e ratificação das relações de poder". Era um espetáculo sangrento que assumia diversas formas: decapitação, enforcamento, crucificação, afogamento, morte pelo fogo ou em festas populares, em que se incluíam o circo de feras ou os jogos de gladiadores.
Durante a Idade Média, por exemplo, vemos como a violência manifesta na religiosidade, durante o movimento das Cruzadas, onde milhares foram mortos ou deram a vida em nome da religião e seus monarcas.
Atualmente, a globalização, conforme se alastra e conecta os homens pelo globo, é acompanhada pelo localismo e o particularismo religioso, étnico ou cultural, promovendo ódios e incompreensões crescentes. Episódios na Bósnia ou em Kosovo, na Faixa de Gaza ou na Irlanda do Norte, ilustram que a tolerância chegou a seu mais baixo nível, e, atravessar uma rua, entre bairros pode representar a morte.
Há também a questão da identidade, que se constroi na diferença em relação ao "outro", negativando-o: a xenofobia. Na era Bush, enquanto os Estados Unidos sempre procuraram ser vistos como os defensores da democracia, o olhar sobre o 'outro', o inimigo, se torna negativo, qualificando-o como Eixo do Mal, no caso de Irã, Iraque e Coréia do Norte. A manipulação da comunicação mostra como se elaborou um discurso político para justificar o embate político e as guerras no Oriente Médio.
As guerras são fatos históricos que levaram pesquisadores a tentar entender a origem da violência na espécie humana. Desde que tomamos consciência do que somos, ou melhor, que “somos”, nos questionamos sobre essa nossa natureza- intrigante e dual. Os principais psicanalistas não ficaram atrás, mas mesmo eles não nos deram uma palavra final.
Freud tinha uma visão negativa do homem o achando mal por essência, Carl Rogers por sua vez pensava o oposto e creditava a violência há fatores externos. Gosto do conceito da Dra Ana Beatriz Barbosa Silva de que em sua maioria a humanidade é boa sendo que todos nós poderemos ter episódios de comportamentos inadequados, mas que nossa consciência, em determinado momento, nos fará retornar ao padrão anterior, isto é, se a tivermos.
Pesquisas apontaram que o cérebro tem áreas ligadas à moral e que, em sua evolução, nossa espécie as desenvolveu justamente por uma questão pragmática, pois isso favorecia nossa sobrevivência e, por conseguinte perpetuação. Segundo os cientistas nossa arquitetura, isto é, o cérebro que desenvolvemos nossa linguagem e a consequência disso- a cultura- nos tornou diferentes das outras espécies, mesmo as mais próximas.
Portanto, estamos equipados tanto biologicamente quanto culturalmente para discernir nossos atos e decidir sobre o que fazer. Salvo as anomalias, a maioria de nós é capaz de avaliar o mundo ético e moral e por uma natureza inata (a sociabilidade) optar pelo padrão médio da maioria.
Quero pensar que as notícias que ouvimos todos os dias criam uma imagem impactante que nos faz deduzir que o homem rompeu todos os freios e que isso ainda é causado por uma minoria que foge a regra. Prefiro isso, a concluir que a coisa desandou e estamos vivendo uma escalada do mal sem precedentes. Pensando bem, 7 bilhões, é gente pra caramba e 4% disso pode causar miséria, então faz até sentido essa pensar assim.
Champinha |
De qualquer forma, cabe ao homens e mulheres de bem não se resignar ou se acomodar diante daqueles que insistem em desintegrar a sociedade porque senão o mal e a vida serão banalizados e isto pode nos atingir cedo ou tarde. E isto, independe de chegarmos a alguma conclusão acerca de nossa natureza.
Leia também: Cérebro e violência e Corrupção, natureza humana e castigo
raniery.monteiro@gmail.com
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