Todas as sociedades
humanas dependem de uma estrutura ordenada de controle social pra existirem de
forma eficiente e pacífica. É um ideal. Com este intuito nos organizamos
politicamente em Estados. Cabe a este dizer como devemos nos comportar diante
dele e entre uns em relação aos outros e, desta forma, surgem o universo
jurídico como controle comportamental social.
Hoje, isto se faz pela
chamada forma técnico-jurídica onde pra cada comportamento previsto um
ordenamento correspondente e, em caso de violação, uma sanção respectiva. Não vem
de causa e efeito, mas de uma elaboração que leva em conta valores que foram
elencados pra serem protegidos.
Se em nossa avaliação
superficial achamos que todo este complexo de ordenamentos não é perfeito,
imagine, então, lá na antiguidade quando o Direito sequer era ciência. Nascia da
cabeça dos chefes de família, portanto as leis eram ele. Curiosamente o Pater
Famílias acumulava diversas funções, como a de líder religioso daquele clã e
uma coisa era certa: tudo o que dissesse respeito à vida daquele grupo
pertencia a ele. Sendo assim, o deus a ser adorado e temido, quem casava com
quem, quem vivia e quem morria; tudo, era determinado por ele. Poder absoluto. Naquele
tempo, direito, religião, tradição era tudo uma coisa só. Neste ponto já dá pra
perceber que viver naquela época não deveria ser nada fácil.
O mundo seguiu seu curso e
milênios se passaram e cá estamos nós. Conquistou-se muita coisa e ainda
estamos em processo evolutivo, pois a tirania, o abuso e o arbítrio ainda
caminham conosco como uma chaga que insiste em não ser extinta.
Que o poder econômico
determina praticamente tudo em nossas vidas é fato consumado. As relações
humanas se dão pelo trabalho e este influencia toda a esfera de sobrevivência
de cada um de nós pelo mundo. O Estado, em determinado momento, precisou
interferir nessa relação e produzir equilíbrio, já que o homem manteve-se lobo
dele mesmo, ou melhor, de seu próximo. E isto (devorar), não mudou. Taí o
assédio moral que não nos deixa esquecer isto todos os dias, em todos os
lugares, por todo o planeta.
O Estado, não só
interferiu nessa relação como também passou a participar dela. Criou órgãos e
empresas pra atender a demanda de serviços de que tornou- se responsável. Com
isso, toda uma estrutura nasceu atrás e se institucionalizou. A ideia de
serviço público anda de mãos dadas com servir ao coletivo. Seria inimaginável
que fosse diferente. A lógica não permite outro pensamento. Certo?
Todos os anos milhares de pessoas increvem-se em concursos públicos na expectativa de poder contar com estabilidade e boa remuneração ou mesmo seguir carreira. Ninguém imagina que pode se deparar com situações violadoras de direitos. No entanto, cotidianamente
vemos e somos testemunhas da inversão de valores, princípios e finalidades que
ocorre dentro do chamado espaço público. Corrupção, ilícitos, imoralidades,
nepotismo, improbidade administrativa, desvio de finalidade, formação de
quadrilha etc. A coisa pública resumida a covil de malfeitores.
Mas, você pode estar se
perguntando: e o que isto tem a ver com assédio moral, por exemplo? Trabalhe em
uma empresa ou órgão público e você saberá responder com cada palavra. Porém, “tudo”
responde bem. Basta você imaginar que nestes “feudos” ou “oligarquias” que se
enclausuram e criam raízes, determinados grupos se apossam destas entidades e
praticam toda sorte de crimes imagináveis e possíveis em benefício próprio,
sobretudo pra enriquecimento ilícito.
Ocorre que, via de regra,
estes “criminosos”, ocupam cargos ou funções sem a menor competência, muitas
vezes por indicação de quem já possui alguma intenção em mente. É o chamado “esquema”.
São situações, as mais absurdas, e de deixar qualquer um de queixo caído. São
nesses ambientes que se pode observar a real natureza de determinados seres
ditos humanos. É degradante e indecente. Chega a dar vergonha de pertencer a
esta espécie. Isto em mim, e talvez em você. Neles, não.
Bom, fica claro que aquele
que não pactua com a sordidez, acaba sendo carta marcada pra estar fora do
baralho. E é aí que a coisa se desenrola. Será preciso tirar do caminho aquele
que será um empecilho pros objetivos escusos da bandidagem. Aliás, é
impressionante como eles gostam de se identificar e agir como tais. Curioso
mesmo são os laços que desencadeiam com determinados grupos políticos ou
fraternidades centenárias para desencadearem de forma eficiente suas práticas
criminosas. Mais incrível ainda é como estas entidades se prestam a isso.
É como se houvesse um
caldeirão da bruxa má, e na poção mágica que ela prepara contivesse, entre
tantos ingredientes, corrupção, psicopatia, assédio moral. Evidentemente que
toda sorte de criatura das trevas seria atraída por ela: mortos vivos,
parasitas, zumbis, vampiros etc.
E quem paga por toda esta
luxúria e orgia? Todos nós. De diversas maneiras; não é só com impostos, não! Não
fosse somente pelo enriquecimento ilícito seria possível prever uma série de
pontos negativos. Nas licitações, por exemplo, que irão afetar crianças nas
escolas. Enquanto vagabundos ganham dinheiro, estudantes ficam sem merenda ou a
terão em péssimas qualidades. Na saúde, precisa dizer alguma coisa? Em concursos
públicos, onde por conta de esquemas de terceirizações, um calhorda ganha
dinheiro em cada trabalhador que uma determinada empresa ofereça, desta forma procuram impedir ao máximo a abertura de editais. E o agente da
CET que precisa produzir multas pra que o prefeito levante dinheiro pra sua
campanha? Enfim, eu ficaria aqui um ano inteiro escrevendo pra enumerar tanta
sujeira que se faz à custa de toda a sociedade, que aprendeu a ser permissiva e
complacente com o pretexto de que isto é um fenômeno cultural.
Mas é lá no dia a dia que
um funcionário ou empregado público sente na pele o que é ser alvo de
perseguições encabeçadas por bandidos travestidos de servidores. São punições
forjadas, rigor excessivo e exemplar nas punições, estigmatização, humilhações,
direitos cerceados descaradamente e sem punição aos responsáveis que manipulam
inquéritos administrativos a seu favor ou contra o servidor levando em conta a
conveniência do momento. Isto porque há toda uma legislação que determina que
não se pode utilizar da coisa pública pra fins pessoais, imorais, ilegais; sem
contar que deveriam seguir princípios constitucionais como o do devido processo
legal entre tantos. Mas seria muita ingenuidade acreditar que em tais lugares
infestados de malfeitores isto ocorresse. Mas, é da perversidade deles que
brota a indignação e a força daqueles que acreditam em sociedades democráticas
e, que apesar de toda a perseguição, não se intimidam pelo mal e partem para o
confronto mesmo sabendo que serão feridos em dado momento.
A história escreveu em
seus anais o avanço contra toda sorte de violações e abusos cometidos pelos
gananciosos pelo poder a ponto de termos hoje mecanismos de controle destes e
de suas violações. Basta saber que suas condutas são sua vulnerabilidade e testemunhas
contra eles. Quando suas sujeiras vêm à tona junto dela toda a sua covardia se
manifesta e nesse momento sua verdadeira face se mostra ora traindo aqueles que
lhe foram servis ou no momento em que estes, diante do pânico, os delatarem.
Suas práticas em nada são
originais, ao contrário são tão arcaicas quanto aquelas praticadas na
antiquidade e tão patéticas que poderiam virar roteiro pastelão como no filme“Ano
Um”: na antiguidade Zed (Jack Black) e Oh (Michael Cera) são impagáveis homens
da caverna que saem das montanhas direto para um festival de gargalhadas de proporções
bíblicas. Um deles é um caçador brucutu, o outro é o gentil apanhador de frutas
e ervas. Juntos, eles são a mais pura comédia vivendo os momentos mais loucos
da história da humanidade. É uma comédia rude, cruel, totalmente absurda, digna
dos personagens citados nesta postagem, especialmente de mau gosto e que
certamente provocará muitas gargalhadas!
Já as atitudes bizarras e
imorais de nossos protagonistas em nada são engraçadas, apesar deles rirem orgulhosos
de seus feitos. Não são destituídos de conhecimento como aqueles, mas sabem muito
o bem o que estão fazendo e cientes de suas repercuções, mas sua natureza os
impulsionam tanto quanto as das víboras.
Portanto, as práticas de
assédio moral no serviço público podem muito bem ter suas raízes em outros
problemas crônicos e tão sérios quanto. Daí dizer que seu combate ser tão
importante quanto a estes que no final, surtirão efeito semelhante.
Leia: Assédio Moral: a sombra que ronda o serviço público
Leia: Assédio Moral: a sombra que ronda o serviço público
raniery.monteiro@gmail.com
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