As aranhas, ditos animais peçonhentos, são por natureza, predadores: especialistas em caça e morte. Com exceção de um, na comunidade dos insetos, ela é o terror, como seus equivalentes maiores os lobos, águias e tigres, por exemplo.
Cada espécie de aranha manifesta ou reproduz uma estratégia igualmente diferente de caça. Algumas tecem teias, outras utilizam alçapões, onde aguardam a vítima em terra, algumas colocam armadilhas enquanto esperam a presa passar e outras, ainda, se escondem dentro de flores.
Independentemente de qualquer estratégia a grande maioria das aranhas possui um padrão comportamental definido pra capturar e alimentar-se de suas presas. Sua principal ferramenta são o par de mandíbulas dos quais possuem quelíceras dentro delas. Todas as aranhas possuem veneno, que são injetados na presa pelas quelíceras, o que varia é a toxidade de cada espécie. Quando a aranha fura a vítima, espreme o veneno, injetando no animal neurotoxina suficiente pra paralisá-lo ou matá-lo. Isso faz com que seja seguro para a aranha alimentar-se de sua vítima, sem o risco de uma luta.
Da mesma forma que os aracnídeos os assediadores ou perversos narcisistas agem silenciosamente. Você já ouviu alguma vez algum som emitido pelas aranhas? Pois, é! É uma excelente estratégia caso você queira atacar alguém. Chamar a atenção pra suas intenções despertará o desconfiômetro no outro e pode atrapalhar tudo.
É a violência silenciosa, e, a vítima a sofre silenciosamente, porque se trata de uma violência velada e insidiosa, não demonstrada pelo agressor, que se estende ao longo do tempo, negada e denegada por ele, que sutilmente inverte a relação projetando no outro a culpa pela situação. Desta forma, a vítima se sente confusa, atordoada (paralisada) e acaba por sentir-se culpada, o que, por sua vez, inocenta o agressor.
As aranhas precisam suprir suas carências nutritivas, pois não as produz, daí por que caçar. Da mesma forma assediadores possuem uma inadequação interna que os impele a agredir pessoas. Ao invés de resolver seus conflitos psicológicos buscam no controle do outro sua amenização e consequente satisfação psíquica.
Sendo assim o agressor precisa desvalorizar alguém pra fortalecer-se e sentir-se melhor. A sua desestruturação interna é projetada no outro que se torna um bode expiatório que ao ser controlado ou dominado estabiliza internamente seu algoz.
O assédio moral é, portanto, um tipo de perversão na qual o uso do outro como objeto se dá pelo poder e domínio deste. O paradoxo se dá exatamente por que o agressor precisa de sua vítima pra sentir-se bem, para nutrir seu estado emocional débil, ou seja, é ela quem fornece a energia vital pra ele se sentir autoconfiante. Como este estado de tensão contínuo desencadeia uma síndrome paranóica o agressor sente-se em constante ameaça e desencadeia estes mecanismos de defesa perversos num ciclo retroalimentativo.
Preste atenção: toda a estratégia desenvolvida pelo assediador emerge a partir destes princípios de inadequação social. Muito similar a aranha, o agressor, então, passa a preparar o ambiente e o terreno pra capturar inexperientes ou desavisados.
Tal qual o artrópode, o perverso monta suas armadilhas pra capturar o primeiro que não tomar a cautela necessária; Tece sua teia de intrigas que pode contar com seus lacaios, que passam a ser os seus olhos- aliás, a aranha tem muitos também; Armam arapucas que um descuidado cai sem chance de se livrar a tempo. Se camuflam de amigos fazendo parecer que o ambiente não é hostil ou perigoso e levantam informações ou traçam o perfil de suas vítimas que serão usados contra elas; Ficam de tocaia aguardando o momento adequado pra abater aquele que não desconfia de suas más intenções e não se fazem de rogados em trair a confiança alheia; E uma vez, tudo sob controle, injeta seu veneno e suga a vítima aos poucos. Lembra? Eles acreditam que há um complô pra derrubá-los e, portanto, tudo o que fazem é válido e justificado. Racionalização, aliás, é um dos mecanismos preferidos pra adequar suas ações às explicações que devem ser dadas e que amenizem possíveis conflitos de consciência.
Mas todo predador tem um inimigo natural, à altura ou superior a ele em força ou capacidade de adaptação, é a exceção que citei no 1º parágrafo. A aranha também. Existe uma vespa da família dos Pompilídeos que é um inimigo natural das aranhas, caçam-nas e ferroam-nas, mas sem que essas morram, na verdade as deixam sedadas. São transportadas para um buraco onde a vespa deposita seu ovo e quando nasce a larva, esta se alimentará da aranha. É o predador...do predador.
Neste instante a aranha passa a, digamos, experimentar do seu próprio veneno, com perdão do trocadilho. Ora, será que um assediador também tem uma similaridade aqui? Claro que sim, é o mundo da predação!
Perceba que a vespa não possui medo algum da aranha, pois já detectou sua vulnerabilidade e ainda a utilizará para perpetuar a sua espécie, afinal, ela está muito bem nutridinha e fornecerá um farto alimento pros seus filhotes. Eu costumo dizer que o assediador desenvolve o “paradoxo do patife”. Explico: a vulnerabilidade é intrínseca dele e nele. Seu padrão comportamental pressupõe que anda na irregularidade, assim não o fosse, não precisaria utilizar-se destes artifícios, sendo assim, ele é sua própria vulnerabilidade e, sabendo-se explorá-la, cairá por suas próprias mãos.
Adotando-se medidas cautelares, conhecendo como se dá todo o processo do assédio moral, agindo de forma assertiva, isto é, equilibrando razão/ emoção e oferecendo ao agressor meios dissuasivos, ele também se inibirá ou cairá e será punido por suas ações, ou, a empresa por ser a responsável civil por ele, não importa.
A vespa aqui, por analogia, é o Direito que possui a força da Constituição e que protege e ampara as garantias individuais e fundamentais de cada pessoa. Não importa o quanto letal seja o veneno de um assediador, ele não faz frente ao poder de punir do Estado. Agora, é preciso usar a cabeça e os meios legais disponíveis pra caracterizar o problema para que a justiça cumpra o seu papel.
raniery.monteiro@gmail.com
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