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Instinto de competitividade

Entre tantos aspectos, nossa natureza é competitiva.

Este, é o instinto que nos possibilitou obter sucesso na batalha evolucionária.   O instinto competitivo nos tornou os animais mais bem sucedidos e dominantes no planeta. Obviamente que junto a isso nosso cérebro, e consequente inteligência, forjou um ser complexo como nós.

Se pararmos um momento para pensar, faz todo sentido que tenhamos desenvolvido tais mecanismos, já que viver era um risco constante que nos acompanhava desde o nascimento. Nossa inteligência logo nos mostrou que viver em grupos era melhor e mais eficiente. Formar alianças era um modo de nos protegermos e ao mesmo tempo conseguir as condições necessárias à sobrevivência como alimentos, abrigo e formas de reproduzir.

Só que essa combinação não para por aí, como é fácil constatar. Quando nos deparávamos com outros grupos que queriam a mesma coisa, se estabelecia uma disputa que poderia ter fins trágicos para os perdedores.

Isso não mudou desde então, e cá estamos nós, no mundo moderno, mas com uma diferença enorme: a quantidade de habitantes. Talvez esteja aí uma possível explicação para a violência e banalização da vida nas mais variadas esferas da sociedade.

Para se ter uma ideia do poder deste instinto, basta saber que somos estimulados a vencer pelos hormônios do prazer (que isso estimula) e inversamente- perder- nos causa um mal-estar tão grande que nosso cérebro mantém isso registrado na memória.

Pude observar a influência da competitividade sobre o nosso comportamento, incluindo a sobreposição sobre a razão e a lógica, por conta de um episódio lamentável decorrente de uma partida de futebol. Lamentavelmente, um torcedor portando um sinalizador, ao dispará-lo no estádio acertou um garoto de 14 anos que acabou falecendo.

Imediatamente começaram manifestações apaixonadas de torcedores de times adversários pelas redes sociais. O curioso era que os mesmos alegavam um suposto clamor por justiça ficavam ofendidos quando questionados por sua imparcialidade. Mas, como se é imparcial e ao mesmo tempo declarar que odeia o outro time- ainda que isso me deixe perplexo, isto é, como alguém pode ser anti-outro? Quem se incomoda é porque toma partido e se importa de qualquer forma.

Nesse episódio ficou claro que o instinto de competitividade bloqueia qualquer forma de razão e bom senso já que permitiu julgamentos precipitados baseados em emoções comprometidas. Já pensou se um juiz agisse assim? Ele diria: detesto esta pessoa, mas serei imparcial ao julgá-lo. Não dá, né?

O hilário foi que surgiram inúmeros “juízes”, “peritos”, e “investigadores criminais” especializados em afirmar a suposta culpabilidade do torcedor infrator. De bate pronto já se tinha a sentença, o dolo, e, pior, a generalização. Teve até senhor da moral e dos bons costumes e discussões sobre a verdade dos fatos (isto, sem estarem presentes ao local e antes das autoridades), mas tudo com uma imparcialidade tibetana, nada relacionado ao time odiado, afirmavam.

Este episódio demonstra cabalmente como ficamos cegos por influência de um instinto poderoso e que se nos recusarmos a dar ouvidos à razão e a inteligência podemos ser levados a cometer erros de forma impulsiva.

Agora, pegue tudo isso (competitividade ao extremo) e coloque dentro de uma mente sem consciência e você terá um predador social. Movidos e excitados pelo desejo de poder elevarão a enésima parte toda sua capacidade de conquista, não medindo esforços e passando por cima de qualquer um.

No caso das pessoas completas a coisa pode perder o controle e, o que é meio, se torna fim. Este mecanismo evolucionário foi desenvolvido para nos proporcionar condições favoráveis e não uma fonte de auto-destruição. Não é o instinto que controla o homem, mas o inverso. Pelo menos deveria ser assim.

Infelizmente, vivemos numa sociedade que é estimulada a viver por princípios e valores imediatistas baseados no consumismo e materialismo exacerbados e, portanto, excluindo outro instinto importante do qual fomos dotados: o social. Daí desprezarmos o próximo e categorizá-lo como um adversário a ser batido- é a síndrome do campeão.

Somadas estas características, coloque-as dentro de uma pessoa, lhe dê algum cargo ou função de comando e obtenha um assediador moral que não tolerará ser contrariado, ainda que o que faça seja ilegal ou abusivo.

Incremente um caráter corrupto e ganancioso e amplie as expectativas: total e descontrolada falta de escrúpulos. É preciso dizer que a frieza e o desprezo serão marcas distintas de tal pessoa?

Vamos avançar mais um pouco e proporcionamos ao oportunista competidor social os meios e o ambiente ideais para que ele expresse todo o seu ser perverso- é o paraíso dos patifes. Ali, manipularão o grupo, explorarão suas fraquezas, disseminarão todo tipo de intriga e incentivarão o ego de uns contra os outros.

Pergunte à blogueira cubana opositora de seu governo o que acontece contra quem identifica e se manifesta contra os abusos cometidos pelos ditadores locais. Incrivelmente não é só nestes governos que isso acontece, mas em plena democracia há bolsões de antigas ratazanas que insistem em manifestar os mesmos tipos de abusos da época em que o país era controlado pelos criminosos fardados.

Terminando a descrição dos agressores- agregue o fator incompetência e despreparo e você obterá uma equação destrutiva que os psicólogos denominam de síndrome do chefe pequeno ou síndrome do pequeno poder.

Do exposto aqui, ficou claro que possuímos um instinto que foi desenvolvido em tempos primordiais, e, que hoje, não está ligado a uma luta contra animais predadores, mas em um contexto urbano, que permite o confronto imediato, salvo em situações de criminalidade, que acaba gerando inúmeros transtornos como ansiedades, síndromes de pânico e tantas outras doenças de ordem emocional que afetam nosso cérebro.

A conclusão é que viver ainda continua um desafio, mas bem que poderíamos evitar desgastes desnecessários como se estressar por coisas fúteis e medíocres como futebol, por exemplo, onde pessoas se matam, se agridem ou tornam um esporte mais importante que a vida humana.  
Raniery
raniery.monteiro@gmail.com


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