Pular para o conteúdo principal

Absurdo Sem Sentido

“Na tentativa de se eximirem de suas responsabilidades, oficiais nazistas utilizaram como parâmetro de defesa exatamente o argumento de que, simplesmente, estavam cumprindo as leis válidas”.

“Segundo o Direito dos Estados totalitários, o governo tem o poder para encerrar em campos de concentração, forçar a quaisquer trabalhos e até matar os indivíduos de opinião, religião ou raça indesejável. Podemos condenar com a maior veemência tais medidas, mas o que não podemos é considera-las como se situando fora da ordem jurídica desses Estados.” (Hans Kelsen)
Fonte: Justificando

Todos têm uma ideia mínima acerca do conceito por trás daquilo que é legal, regrado, normatizado, enfim, de caráter obrigacional. No entanto, tenho percebido que nada confunde mais as pessoas do que isso. A razão encontra-se, acredito, no fato de se basearem em seu senso comum para deduções de caráter individual.

Ora, o Direito é uma ciência e como tal alicerça-se em processos epistemológicos próprios que geram sua metodologia específica, se atualizando na mesma proporção da evolução social. As leis por sua vez, nascem e morrem na medida da saturação de sua eficiência, o que faz todo sentido- aliás, há uma lógica em curso nisso.

Então, é razoável concluir que aqueles que atuam nesta área humana, denominados operadores do Direito, são os mais competentes tecnicamente para discutir seus institutos. E mesmo assim há inúmeras divergências, haja vista ser esta uma área que apesar de se basear na razão absorve outros tantos fatores, como os valores e os fatos, e por isso mesmo não adquire característica análoga às ciências físico-matemáticas.

Com isso se quer dizer que suas conclusões não são de simples elucidações, daí se afirmar que seus pareceres atendem aos casos concretos, pois da mesma forma que um homem não é igual ao outro, seus conflitos seguem a mesma dinâmica. Daí, que não se pode conceber que decisões sejam tomadas ao sabor de simples ilações de caráter opinativo ou pessoal.

Por ocasião da segunda guerra mundial, os alemães obedeceram cegamente às instruções de seu líder na ocasião, que pelas leis em vigor estava autorizado a montar uma indústria da morte. Veja que todo processo lógico-técnico lhe assegurava isso, pois bastava uma lei para que tal atrocidade fosse legitimada, por mais absurdo que isso fosse.

Evidentemente que a história se encarregou de não amparar uma distorção absurda dessas. Conclua por si só que é preciso um sentido à norma; que atenda um determinado fim; não sendo ela um fim em si mesmo, ou atendendo a si própria, pois seu objeto é o homem- a quem serve.

E vai mais além, dentro do rol de normas cogentes ou dispositivas, públicas ou privadas há a chamada hierarquia onde em seu topo está a Constituição que lhe é suprema e determinante sobre todas as outras, que por sua vez, não lhes podem colidir sob pena de se tornarem nulas de pleno direito já que seriam consideradas inconstitucionais.

E não acaba aí, pois há a chamada hermenêutica que determina a devida interpretação e atualização da norma para que acompanhe a dinâmica da evolução social, como já dito, composta de procedimentos definidos pra sua realização, o que se pressupõe que uma autoridade legítima e competente é que dará sua palavra final nas questões desta ordem, como os superiores tribunais.

Ora, já deu pra chegar a uma conclusão elementar de que o Direito uma esfera maior que a lei (sua partícula) não é obra de uma única mente, muito menos possa se basear no fruto da opinião de cada um, mas exige exaustivos debates acerca de assuntos em ordem de importância e prioridade que se queira disciplinar.

E por que estou escrevendo tudo isso? Porque venho sendo exposto diariamente ao abuso e arbítrio de pessoas que simplesmente resolveram ignorar os princípios e institutos do direito, leia-se: Normas e Princípios Constitucionais, Códigos, leis em ordem hierárquicas estabelecidas para fazerem o que bem entenderem e de acordo com suas próprias cabeças à revelia de tudo o que esteja estabelecido nesses regramentos institucionais.

Criaram um manual de disciplina que simplesmente ignora tudo, disseram-me que ele está acima da própria Constituição e códigos civis, trabalhistas e processuais e que farão o que bem entenderem, inclusive, aplicar ou não os artigos contidos ali conforme sua conveniência ou capricho. Não importa se o que fizerem for ilícito desde que atenda às suas vontades.

Perguntei ao meu chefe sobre a atitude de determinada funcionária do DP e me fora dito que ela é uma escrava da norma e que fazia não o era de má-fé, mas puro cumprimento do lhe fora ordenado mesmo que isso importasse em absurdos e ilegalidades ou, como lhe disse não sendo ninguém obrigado a fazer nada, senão em razão de lei. Então, ela não pensa ou reflete sobre o sentido da regra, mas a aplica simplesmente exatamente como os alemães na segunda guerra mundial mataram mais de seis milhões de pessoas incluindo crianças, mulheres e idosos...simples assim.

Acontece que o que me confunde é que se você entrar no site desta empresa verá que ela diz seguir os princípios jurídico-administrativos da administração pública que são os seguintes princípios Constitucionais:

- Princípio da Legalidade;
- Princípio da Impessoalidade;
- Princípio da Moralidade (administrativa);
- Princípio da Publicidade;
- Princípio da Eficiência.

Alguém aqui deve estar profundamente equivocado acreditando estar investido de poderes maiores que os conferidos ao próprio Estado, ou está pouco se importando com as repercussões jurídicas de seus atos derivadas de um sentimento de impunidade.


Seja como for resta a única coisa que se possa fazer em casos de flagrante violação legal que é encaminhar aos devidos órgãos competentes para que intervenham e manifestem o seu parecer sobre a questão, pois ao que parece esse é o único caminho a  ser tomado em casos onde o diálogo esgotou os seus recursos.

Portanto, pode-se argumentar que a disciplina impõe a ordem e consequentemente a norma, mas quando esta é destituída de seu devido sentido não deve ser cumprida, pois se não sabemos seu conteúdo técnico em toda a sua extensão sabemos intuitivamente, no entanto, que a ordem absurda...não se cumpre.
Raniery








raniery.monteiro@gmail.com

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eu, eu mesmo e...somente eu!

Nada é mais difícil de lidar que uma pessoa narcisista . Elas se acham a última azeitona da empada e acreditam que as pessoas existem para lhes servir.  Se arrogância pouca é bobagem, imagine, então, um ambiente que lhe proporcione manifestar a totalidade de sua megalomania. No filme de animação, Madagascar, há dois personagens que traduzem perfeitamente o estereótipo do narcisista: o lêmure, rei Julian e Makunga o leão ambicioso e ávido pelo poder. O rei dos lêmures, Julian, se ama e se adora e acredita firmemente que tudo acontece em sua função. Com uma necessidade incomum de ser admirado faz de tudo para aparecer e chamar a atenção. Já o leão Makunga encarna o tipo de vilão asqueroso, dissimulado e traiçoeiro que sempre está planejando algo pra puxar o tapete do leão alfa. Nas relações onde o assédio moral é forma de interagir, tais figuras estereotipadas e sem noção aparecem por trás de atos inacreditáveis de egocentrismo crônico.  Não podem ser contraria

Help Me Dr!

Viver é um processo de interação contínua e de exploração da realidade que está diante de nós. Sendo assim, aquilo que se apresenta e aparece diante de nossos olhos como real, nem sempre é de óbvia interpretação, encobrindo contextos mais complexos do que imaginaríamos, principalmente sob a superfície. Tampouco, significa isso dizer que não possamos identificar os elementos subjacentes de tal fenômeno. Que o assédio moral é um tipo de abuso tão antigo quanto o homem, não se discute, no entanto, nem sempre sua identificação (em termos de fatores) é tão simples, daí porque se dizer que é subjetivo. Inúmeras teorias dos especialistas emergem a cada momento e me permito levantar as minhas hipóteses, muito menos pra estabelecer um grau de informação científica, muito mais para suscitar em você a discussão sobre o tema. Pra fazer isso gostaria de utilizar os recursos da ficção científica para criarmos um contexto que nos possibilite explorar as inúmeras possibilidades que o fenô

Ninguém chuta cachorro morto

A expressão significa que as pessoas não atacam quem não tem valor, é insignificante, medíocre, mas alguém que possui características ou qualidades que incomodam e por isso as ameaça, daí porque utilizarem deste recurso numa tentativa de a diminuírem de alguma forma ao mesmo tempo em que se projetam. É da natureza de determinadas pessoas, que por uma inadequação interna, sentirem-se inferiores a outras, não pela suposta superioridade destas, mas pelo seu desajuste psicológico. Por isso, para alcançar o equilíbrio de seus centros emocionais praticam uma espécie de projeção imputando ao alvo de sua fúria seus próprios fantasmas internos. Este recalque as leva, então, a inventar boatos, viver em mexericos pelos cantos, disseminar a intriga e semear a discórdia contra a pessoa que vêm como sua competidora natural. E como se sabe que o problema é do desajustado? Simples: percebendo que a cada momento se elege um novo candidato ao posto de alvo. Sempre alguém não prestará ou será